segunda-feira, 7 de maio de 2012

Valarion Miniaron, o “paladino” do Caos.


“Ei, Comen, conta uma história pra gente?”
“Claro, criança, que tal a história do grande Oropaldir, o Abençoado?”
“Nãããão. Essa é sem graça.”
“Então talvez vocês prefiram que eu lhes conte como o Leão de Brunível resgatou sua princesa das mãos do tirano Astalar”
“Blééé...”
“Hum... então talvez vocês tenha interesse na história do infame Valarion Miniaron”
“ISSO!”
“Mas eu já contei essa história umas 374 vezes...”
“Aaaah. Conta de novo”
“Certo, certo...”

Essa história começa muito, muito tempo atrás. E, pra vocês que são novos por aqui, eu vou ter que explicar um pouco sobre os Miniaron. Os Miniaron eram um grupo diferente de elfos. Criados entre neve e gelo, eram um povo frio com traços diferentes e costumes estranhos. Durante muito tempo, a cidade deles Icerock, era apenas mais uma vassala do reino élfico, mas o pai do Valarion tinha outros planos. Apesar de a Mini-rebelião ser um história fascinante, eu vou deixar ela para outro dia.  O que vocês precisam saber é o seguinte. Deu tudo errado. Os Miniaron foram derrotados e tiveram que enviar seu primogênito para morar entre a realeza élfica, como refém.

O pequeno Valarion foi muito bem cuidado, não se enganem. Foi treinado no uso da espada e do arco, como todo bom elfo, e até ingressou na Real Academia Militar como era próprio ao filho de um grande senhor. Contudo, como vocês bem sabem, ele nunca foi um jovem ordeiro. Foi assoitado umas quantas vezes por chegar bêbado nos treinos matutinos e umas tantas outras por nem chegar. Quando ele foi pego... se divertindo... com a filha do capitão (e na própria cama dele) a Realeza teve um dilema nas mãos. A pena para aquilo era a morte, mas eles não podiam perder um refém tão precioso e arriscar uma nova rebelião.

Assim, eles o enviaram para um novo “esquadrão” experimental que tinha sido criado recentemente: a Tropa de Contenção Urbana. O grupo foi formado para servir como guarda dentro da cidade e seus integrantes recebiam um treinamento não-ortodoxo voltado para combate em becos estreitos e casas noturnas, onde até os soldados mais experientes encontravam problemas.

Valarion, inexplicavelmente, se destacou como um dos melhores do grupo, subindo rapidamente no escalão militar. Alguns diziam que ele deve agradecer ao seu nascimento elevado, mas a verdade é que ele era muito esperto para os palermas que estavam sendo mandados para o TCU. Em pouco tempo ele já conhecia os maiores baderneiros da cidade e tinha virado amigo deles. Ao invés de cuidar dos problemas, ele se tornou o maior deles e deixou o resto dos rufiões em cheque.

Obviamente que isso não foi bem visto pelos superiores ou pela realeza. Um capitão que passa a noite bebendo e a manhã chamando o Raul, não é exatamente boa propaganda. Além disso, algumas más línguas não gostavam de ver um possível senhor de Icerock como um membro de elite do TCU. Não demorou muito e nosso jovem Valarion passou a ser vítima de estranhos “atentados” das gangues da cidade. Na verdade, a profissão dele se mostrou um ótimo meio para se livrar de um problema e conseguir a simpatia do velho Renduvel Miniaron. Vocês são muitos novos para entenderem as maquinações da corte, então não vou entrar em detalhes.

Acontece que nosso jovem Valarion não era bobo e acabou sendo o mais beneficiado disso. Ele já era amigos dos capangas que foram contratados para matá-lo e os usou para forjar a sua morte. Afinal, um homem morto não tem lei e pode fazer o que bem entender. Não foi difícil simular uma luta sobre a ponte central da cidade e forjar um corpo para aparecer boiando nas margens do rio. Depois disso ele só precisou viajar para longe (bem longe) e aproveitar uma vida livre de grilhões.

Vocês todos sabem que ele foi parar em Abstein e lá ele encontrou outros grandes aventureiros como a bela Evey, a estranha Silman e Morgan, o Selvagem. Essa parte da história fica pra amanhã, porque agora eu estou com sede e vocês tem que voltar ao ganha-pão de vocês...

Alihanna de Pelor

Pelor.

Desde as mais remotas memórias da minha infância, sempre o meu pai. Sempre o Sol.

Não conheci meus pais biológicos e não sei o que aconteceu com eles. Sei que eu fui mais uma órfã deixada às portas do templo de Pelor para ser criada pelos Sacerdotes do Sol. Uma escolha apropriada, já que ainda bebê meus traços demonstravam que eu não era normal - algo em mim, ainda que talvez fosse uma pequena parte, não era deste plano. Meus olhos por si só denunciavam o fato: olhos sem íris nem pupilas, globos dourados que remetiam aos Anjos Solares.

Desta forma, pareceu adequado que eu fosse criada no templo de Pelor. Mais que isso, pareceu adequado que não só eu recebesse educação e um ofício para que eu pudesse ir embora quando me tornasse adulta. Não. Alguém como eu só poderia ter chegado àquele templo por algum desígnio divino. Os clérigos de Pelor interpretaram que a minha presença ali era um claro sinal de que eu deveria ser educada e treinada para o sacerdócio e para a cura em nome do Sol.

Até a minha primeira infância, eu acreditei piamente nisso. Vivia no templo, os ensinamentos dos mestres eram a minha vida, fui educada nos primeiros mistérios de Pelor. Quando não estava estudando ou aprimorando minhas habilidades, eu meditava - os Mestres diziam que eu deveria aprender a controlar a chama das emoções em meu coração se quisesse encontrar a serenidade. Eles diziam que se eu encontrasse a serenidade, estaria mais próxima do deus.

E eu sempre busquei a harmonia trazida pela meditação, ainda que fosse difícil, essencialmente na infância. No início da minha adolescência, era permitido que eu deixasse o templo para meditar em locais diferentes - bosques, fazendas, vilarejos, campinas. Os mestres diziam que eu devia aprender a controlar minha mente independente de onde eu estivesse, e que devia aprender a encontrar a luz de Pelor em todos os lugares. Assim eu fazia.

Numa dessas vezes, eu fui à um moinho abandonado. Procurei um lugar tranquilo e sentei-me para meditar. Não tardou para que a minha concentração fosse interrompida pelos sons rudes de uma discussão. Decidi procurar para ver o que acontecia. Não muito perto dali, dois rapazes humanos (pouco mais velhos do que eu) surravam uma criança esfarrapada, que pedia misericórdia. O menino magro e desarmado não era páreo para os dois grandalhões que usavam bastões para espancá-lo até a morte.

Não pude olhar aquilo e manter-me neutra. Um calor que eu nunca havia sentido antes tomou conta de mim, e a única coisa na qual eu pude pensar foi que a criança não podia ficar desprotegida. Era a minha obrigação defendê-la.

Apaguei.


Quando eu acordei, estava num ambiente luminoso. A sala com altas colunas de mármore branco e resplandecente lembrava vagamente o Salão Maior do templo de Pelor, porém parecia... mais. Não sei dizer. Levantei do chão, sentindo-me ofuscada pela  forte luz do sol que entrava pelos vãos. Pude ver ao longe, parado no altar, uma silhueta. Presumi que aquele era o Sumo Sacerdote, porém não podia ver-lhe o rosto devido à claridade branca e dourada. E no entanto, algo em meu coração dizia que aquele não era o sumo sacerdote. Eu sabia que o único motivo para eu ter sido levada até o maior dos mestres era porque eu tinha que ser advertida por falhar na minha meditação.

- Senhor, - eu disse - Desculpa-me. Eu falhei. Não fui capaz de manter minha concentração conforme foi designado.

- Não te preocupas, minha criança. - Ele disse. Não era a voz do Sumo Sacerdote. Era uma voz mais imponente e profunda, que tocou fundo em minha alma. Ouvi-la me deu vontade de chorar, tamanha a alegria e beleza que ela trazia para minha alma.

- Mas eu falhei, meu senhor. Falhei na minha meditação. Como posso estar com Pelor se não me concentro na meditação?

Não pude ver a expressão do estranho, mas senti que ele sorria. O sorriso dele aqueceu minha alma.

- Existem várias formas de encontrar teu deus, minha criança.

- Não compreendo.


- Quando enches tua alma de bondade e luz e amplifica tais sentimentos com a tua meditação, então aí está Pelor. Quando usa tuas mãos para curar os doentes, aí está Pelor. Quando levas a luz da esperança onde há o caos e a escuridão, aí está Pelor. Quando tu Quando tu demonstras gentileza, misericórdia e compaixão para aqueles que estão ao teu redor, então aí está Pelor. Quando tu ergues teu braço para derrubar um corrupto, aí está Pelor.

Ele desceu os degraus do altar e eu comecei a visualizar os traços do estranho. Ele era um homem alto e idoso, mais idoso ainda que os sacerdotes anciãos. A barba e os cabelos eram longos e dourados, assim como os olhos, brilhantes e poderosos. E ainda que ele vestisse um robe longo e simples de tecido branco, tudo nele transparecia realeza.

Não. Transparecia mais do que realeza. De repente eu soube quem ele era. Caí de joelhos.

- Quando tu, mesmo em desvantagem, levantas para defender um fraco, aí então está Pelor. Não foi a ira cega que guiou teu corpo, criança. Foi o calor da minha justiça.

- Senhor, eu... não sei o que dizer.


- Não digas. - Pelor respondeu. - Sinta. Existem várias maneiras de servir, e nenhuma delas é mais ou menos digna que as outras. Somos todos servos, criança. Todos nós estamos aqui para servir ao bem e para sermos instrumentos para a sua realização.

- Eu quero servir, meu senhor. Quero servir aos vossos desígnios, quero ser instrumento para que seja feita a vossa vontade.


- E assim será, criança. Porém não através da meditação e da clausura num templo. Tu servirás ao meus desígnios sendo um braço forte na minha luta contra o mau. Tu juras, Alihanna, defender os oprimidos e lutar para ser a luz na escuridão? Juras que a tua espada sempre estará à disposição daqueles que são bons e que a sua dedicação estará sempre em servir aqueles que de ti precisarem? Jura ser honesta e humilde, sempre verdadeira e sempre leal aos meus princípios.

- Eu juro, meu senhor. - Disse, ainda de joelhos no mármore branco. - Juro com toda a minha alma.

Pelor adiantou-se, ajoelhou à minha frente e tocou-me próximo do coração. Senti meu peito aquecer e queimar, ainda que eu não sentisse a dor da queimadura.

- Então que assim seja, Alihanna. Vá, volte e torne-se um instrumento da minha vontade.


Eu abri os olhos e estava no meu catre de volta ao templo. Eu respirava fundo e rápido, surpresa. Aquilo teria sido um sonho? Meu peito ainda estava quente no lugar onde Pelor havia me tocado. Abri a túnica para encontrar ali uma queimadura cicatrizada no símbolo do deus do sol. Quando olhei em volta, o sumo sacerdote estava sentado próximo.

- Como eu vim parar aqui?

- Você está no templo. Esteve dormindo, Alihanna. Dormiu durante quinze dias. - ele respondeu. - Eu esperei. Queria estar aqui quando você acordasse.
Cocei a cabeça. Minhas últimas lembranças, as mais nítidas, eram aquelas junto de Pelor. Forcei minha mente até lembrar do moinho, ou do pouco que eu sabia. - Eu estava meditando quando ouvi aquela criança gritar, os dois grandalhões a surravam, eles iriam matá-la...

O Sumo Sacerdote me interrompeu. - Você jogou-se sozinha e desarmada contra dois rapazes mais velhos que você e armados com bordões, criança. E, de uma forma que nenhum de nós pode explicar, conseguiu subestimá-los. Talvez você os tivesse matado, caso o acólito Raynard não estivesse por perto, tivesse ouvido os sons da briga e apartado tudo aquilo. Diga-me, Alihanna: você treinou esses movimentos de luta sozinha? Por acaso esteve brigando sem que me eu soubesse?

- Não mestre, eu jamais faria isso. - respondi - Mas também não sei explicar o que eu fiz. Quando eu percebi, meus pensamentos não estavam mais lá. Não lembro de nada disso.

Contei meu sonho ao Sumo Sacerdote, em todos os detalhes, e terminei mostrando a marca de queimadura sobre o meu peito. Ele ouviu sem demonstrar expressão nenhuma, assentindo sempre. Quando eu terminei minha narrativa, tudo que ele disse foi um "Compreendo." E deixou-me sozinha. Segui minha rotina por alguns dias e descobri logo que não saíra incólume da briga. Descobri que tinha tido uma concussão e que minha cabeça ainda latejava, e que meu punho direito estava quebrado.

Dez dias depois do meu despertar, fui chamada à presença do Sumo Sacerdote. Ele me aguardava no Grande Salão do templo, porém não estava só. Eu não conhecia o cavaleiro que estava ao seu lado, porém pressentia a aura de poder e nobreza que dele emanava.

- Alihanna, este é Galanor, o Dourado. Ele é um Paladino de Pelor. Eu entrei em contato quando você contou sobre a sua revelação, e ele chegou. Está claro que não é aqui que você deve servir ao Radiante, portanto, você deve seguir e acompanhar Galanor como escudeira. Ele lhe treinará e educará até que você esteja pronta para servir à Pelor por conta própria.

E assim foi. Sir Galanor levou-me com ele e eu fui sua escudeira durante anos. Através dele aprendi a usar a espada e o arco. Aprendi a detectar e combater o mal e aprendi a curar maldições e doenças. Aprendi meu código de honra e conduta. Aprendi um caminho diferente para servir ao meu deus, e estar ali, em combate direto com as forças da escuridão, encheu-me de certeza de que aquele era o propósito da minha vida.

Quando Galanor partiu desta vida, deixou-me seus pertences. Dentre eles, o mais importante e poderoso foi a sua espada, a Holy Avenger, a Vingadora Sagrada, desespero dos malignos.

E aqui eu estou. Onde eu puder ser a luz que rompe a escuridão, irradiando o poder e o calor do Sol, então lá eu estarei.

E que a luz de Pelor ilumine sempre o seu caminho.

segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

O Sonho e a Tarefa

Irina sai do limbo pra dar um oi. Já tava devendo esse texto há tempos :)


Meu inimigo em frente grunhiu e, novamente, tentou soltar-se da sua prisão. Em vão. Eu sabia que ele não venceria os grilhões que eu havia preparado. Encarei-o, olhando fundo nos seus olhos vermelhos - nada havia dentro deles além de crueldade fria e da vontade louca de me matar se pudesse.

Cuspi no chão e voltei a me sentar na rocha, distraindo-me do inimigo preso logo em frente na clareira. Respirei fundo e recolhi minha cimitarra. A lâmina de aço frio estava manchada com sangue seco e sujeira, eu precisava limpá-la. Deveria começar logo.

Admirei a lâmina de metal azulado por um momento, enquanto ela captava a luz do sol nos desenhos que decoravam seu comprimento e lembrei do sonho que me levara até ali. Essa era a minha missão, a minha necessidade. Nesse momento, não precisava mais dos chás ilusórios de El Kas que já haviam me ajudado a achar o caminho anteriormente.

Respirei fundo e fechei os olhos, lembrando do sonho.


"A armadura que eu usava era de uma qualidade superior à que eu estava acostumada. Ainda não estava amassada, nem suja, e seus elos polidos ainda mantinham aquele brilho que só o metal recém-forjado tem. Não conhecia a minha capa e nem as insígnias que eu portava me pareciam familiares - minha única conhecida, a única velha amiga naquele lugar era a minha cimitarra, a mesma cimitarra que eu encontrei na escuridão das montanhas.

Uma batalha desenrolava-se ao meu redor, com os meus exércitos combatendo hordas de demônios. Eu sabia que os exércitos eram meus - sabia que eu os comandava. Eu sabia que na minha posição de líder, eu mataria com eles, e morreria por eles se necessário. Não me importava em morrer, desde que arrastasse o maior número possível de demônios comigo.

Foi então que eu vi, no meio do campo de batalha, um monstro gigantesco, que emanava uma aura maligna e negra enquanto suas asas enormes jogavam sombras sobre o campo de batalha, iluminadas pelo fogo das suas armas. Aquele Balor parecia também um líder de suas hordas e somente a sua visão despertou em mim uma vontade insana de partir contra ele.

Eu lembro-me de gritar em abissal, desafiando-o, enquanto atravessava o campo de batalha. Lembro-me de erguer a cimitarra sobre a minha cabeça, preparando-me para correr e transpassá-lo com a minha lâmina.

E então tudo parou.

Minha lâmina ficou parada, erguida, enquanto eu segurava o punho da arma com as duas mãos. Logo, eu percebi que eu era quem estava parada - que a batalha desenrolava-se ao meu redor em ritmo acelerado, num tempo que já não era mais o meu. E eu vi então o que parava a minha cimitarra, vi aquele que me parava.

Logo, eu estava presa nos olhos sobrenaturais da criatura alta e musculosa à minha frente, que segurava a lâmina com suas duas mãos de pele verde. Suas asas emplumadas e claras não conjuravam as mesmas sombras das asas de couro do Balor que eu perseguia antes. O anjo me parou, e não sei dizer por quanto tempo nós ficamos ali, ambos segurando a cimitarra. Encarar aqueles olhos foi como olhar também para dentro de mim mesma, e logo eu sabia o que deveria ser feito."


Três dias. Por três dias eu deveria enfrentá-lo. Por três dias nós deveríamos lutar, conhecendo um o ponto fraco do outro, até que no terceiro dia só um dos dois - aquele que fosse digno da sobrevivência - deixaria a clareira. Isso era o que devia ser feito para que aquela cimitarra se tornasse aquilo que ela estava destinada a ser - para que eu também me tornasse aquilo que um dia eu precisaria ser.

Meu oponente, claro, não se mostrou tão colaborativo a princípio. Tive que caçá-lo e prendê-lo, e só assim eu o obriguei a tomar parte daquilo. Não importava. Não era a sua vontade que eu queria, mas o desafio que ele representava. Era do sangue dele que eu precisava.

Limpei a crosta de sangue da minha cimitarra e poli a lâmina de forma mecânica, enquanto encarava os olhos vermelhos e cruéis do enorme primata à minha frente. A respiração dele era pesada, ruidosa e da mesmo na distância em que eu me encontrava podia perceber o quão afiadas eram as presas que se projetavam para fora da sua boca.

Um Bar'lgura, a mesma besta que destruíra minhas possibilidades de ter tido uma família enquanto eu ainda estava no ventre da minha mãe. A criatura sobre a qual tanto eu ouvira falar que me motivara a escolher os demônios como meu objeto de caça. Um ser cuja simples visão despertava em mim os instintos assassinos mais frios que eu pudesse ter.

Levantei. Os olhos vermelhos seguiam todos os meus movimentos.

- Hoje é o último dia. - disse, em Abissal. Um brilho de compreensão (ou seria mais ódio ainda?) iluminou a face do meu inimigo. - Agora lutaremos até o final. Hoje você pode conquistar sua liberdade, no entanto, eu não permitirei que saia vivo daqui.

Nenhuma palavra por parte do Bar'lgura, mas eu sabia que ele havia entendido. Usei minha faca de caça para cortar a corda que eu havia colocado como mecanismo de segurança para deixar as correntes que prendiam mãos e pés do meu oponente mais livres e virei-me rapidamente para vê-lo correr em minha direção. Desviei no último momento, esquivando, porém o golpe que eu tentei acertar usando meu impulso foi em vão.

O demônio virou-se, pulando na minha direção, os braços estendidos. Eu sabia que se ele conseguisse me agarrar, um aperto seria suficiente para quebrar meus ossos. Afastei-me, buscando um ponto livre para tentar golpeá-lo. Consegui acertar um golpe fundo na lateral do seu braço e o urro de agonia que ouvi me encheu de prazer.

No entanto, ele sumiu. Eu sabia que Bar'lguras eram demônios que atacavam sozinhos, e gostavam de armar emboscadas. Pior - eles podiam ficar invisíveis e ver invisibilidade também. Um tanto desafiador.

Limpei meu suor. Eu podia esperar um golpe por qualquer direção, então só podia ouvir e tentar observar algum movimento que me orientasse. Nada.

- Onde você está? - gritei, por fim. - Talvez você não esteja mesmo à minha altura, se prefere se esconder a enfrentar-me, covarde!

Eu ri. Logo, eu pude sentir o deslocamento de ar vindo pela esquerda. Apesar de saber que ele vinha por lá, não fui rápida o suficiente para evitar o golpe que ele deu com o dorso da mão e que me jogou para longe. Senti o gosto de sangue na minha boca e isso me enfureceu. Ainda no chão, tive que rolar, enquanto o demônio voltava para cima de mim. Aproveitei nossa diferença de tamanho para impulsionar-me por entre as suas pernas, desferindo um golpe na parte interna do seu joelho que o fez cair.

Levantei, cuspindo o sangue que se acumulava na minha boca. Sangue jorrava da perna ferida do Bar'Lgura. Ainda assim, a criatura tentava levantar-se, debatendo-se, mesmo que eu tivesse cortado fundo suficiente para romper os tendões e desestabilizar a articulação.

Rodeei meu inimigo, olhando-o. Lembrei do sonho, e pensei no pai que eu jamais havia conhecido, morto por uma criatura semelhante àquela. Lembrei da minha missão e olhei a cimitarra. Era a vida dele ou a minha. Seria a vida dele - eu estava determinada.

Ajoelhei me a uns seis metros de distância, levando a minha mão ao chão. Fechei os olhos, sentindo a energia de Obad-Hai ser transmitida entre eu e a natureza. As ervas daninhas que cresciam ali brilharam, esverdeadas, uma luz que subiu pelo meu braço antes de descer, espalhando-se em círculos. Logo, a vegetação crescia, brilhando, envolvendo o Bar'lgura numa constrição apertada. Ele grunhiu de ódio enquanto lutava para livrar-se das plantas que haviam crescido até a altura dos seus cotovelos e ao longo do quadril, já que ele estava ajoelhado.

- Eu disse que só um de nós sairia daqui hoje, demônio. E não lamento o que estou prestes a fazer.

Ergui minha cimitarra e corri. Golpeei a região musculosa da lateral do pescoço, deixando a lâmina cair com todo o ódio que eu havia sentido nos últimos meses - o encontro com os irmãos, nossa viagem pelas profundezas, a morte de Adron, de Chantal, a violação do corpo de Badin, os anos que passaram sem que soubéssemos. Tudo isso num único golpe.

Senti a resistência dos músculos do pescoço, da traquéia esmigalhando-se e a maciez do disco entre as suas vértebras. Atravessei-os todos, decapitando meu inimigo. Ainda que o meu movimento pareça ter durado uma eternidade, foi rápido. Logo eu estava coberta do sangue escuro e fétido do demônio.

Caí de joelhos, cravando a minha cimitarra na cabeça separada. Estava feito, eu tinha cumprido o que me tinha sido incumbido.

Olhei minha lâmina e sorri. Por um minuto, pareceu a mim que ela brilhou, como que se estivesse viva, soubesse que eu havia vencido e sorrisse para mim.

sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

Pergunta aos jogadores!

Gostaria de saber quando os Srs jogadores estarão de volta na nossa bela cidade para marcarmos uma sessão com direito a pancada, a XP da sessão passada (e da outra, que acredito que vcs não tenham recebido ainda) e mais desenrolar da história! :)

terça-feira, 25 de outubro de 2011

Evey Lainhûr, a barda

(Aproveitando um espaço. Ainda não sei se a mesa nova se enquadra aqui no Wintertouched, mas não estou saindo tanto do tema e pelo menos assim compartilho com vcs o que eu fiz enquanto deveria estudar pra prova de depois de amanhã ;) )



Os bardos devem contar suas histórias e manter vivas as lendas. Através da canção de um bardo guerreiros tornam-se heróis, aventureiros tornam-se imortais e toda viagem é possível para todos os cantos do mundo - basta fechar seus olhos e deixar que a canção tome conta de você.

Conhecendo de forma tão íntima o poder da música bárdica, como poderia um menestrel ousar transformar sua própria história em canção? Pois bem, aqui estou eu, Evey Lainhûr, e com uma humilde reverência preparo-me para contar de onde eu vim. Sintam-se honrados, ouvintes, pois poucas pessoas tiveram o privilégio de ouvir as palavras que estão prestes a ouvir.

Não nasci com este nome, mas tampouco sei se poderia receber o nome de meu pai. Lars Alendronel era (ainda é, acredito eu) um pequeno nobre de um lugar longe daqui. Um homem justo e honrado, que assumiu cedo sua responsabilidade e que, como quase todos aqueles de jovens corações, deixava-se levar pelo ímpeto e pelo sentimento.

Sobre minha mãe eu pouco sei. Quase não tive contato com ela e o conhecimento que juntei foi reunido através de rumores e fofocas das criadas do castelo de meu pai. Ela era uma viajante, uma andarilha que trocava suas histórias e canções por abrigo e uma boa conversa. Por algum tempo ela ficou no castelo de Lorde Lars e ambos tiveram um caso que durou algum tempo - até que ela sumiu sem pistas, sem notícias, sem um adeus. Meses depois um cesto foi deixado aos portões do palácio, e eu estava nesse cesto, recém-nascida, desamparada, trazendo um medalhão gasto de prata com o símbolo de Olidammara e uma mensagem de minha mãe dirigida a Lorde Lars, "lamento, mas meu coração é livre, e eu jamais poderia apegar-me nem a ti, tampouco a esta criança." Nunca soube mais nada a seu respeito (e como Lorde Lars proibiu expressamente que o nome dela ou qualquer coisa sobre ela fosse dita, principalmente depois que eu comecei a fazer perguntas, sempre foi meio complicado conseguir essas informações).

A escolha de minha mãe em deixar-me junto de meu pai foi sensata, uma vez que Lorde Lars era um homem honesto e sensato e seguiria a tradição daquelas terras que dizia que um senhor de valores criaria de forma digna seus filhos bastardos. Fui batizada como Eveleen e educada como seria apropriado a uma filha de um pequeno senhor, e além de aprender diversas coisas sobre caligrafia, história, religião, etiqueta, geografia, heráldica e outras destas erudições, fui educada na arte da música, arte que sempre ocupou o espaço mais especial dentro do meu coração. Ainda que nada me faltasse, meu pai mantinha sempre uma certa distância - talvez eu o envergonhasse, talvez ele fosse digno demais para demonstrar amor a uma filha bastarda, talvez eu ficasse mais parecida com a minha mãe a cada dia que passava.

Tinha uma vida confortável com quase tudo que eu queria, mas ainda assim, sentia inquietude em meu coração. A vida entre as paredes de pedra do castelo parecia monótona e já completamente escrita para mim, Faltava algo... era como que se eu sentisse a necessidade intermitente de atirar uma pedra em um lago tranquilo para ver as ondas formando-se em sua superfície. Nunca me comportei "da maneira adequada a uma dama", como diria minha governanta. Quase sempre eu me metia em problemas - problemas dos quais eu me livrava com um doce sorriso e um pedido de desculpas, pois sempre tive muita habilidade em persuadir e lidar com os sentimentos das pessoas... que aia conseguiria resistir a uma criança travessa com grandes olhos claros e um sorriso de orelha a orelha? Apesar de meu pai ser devoto de Pelor, descobri em segredo Olidammara e nutri uma simpatia secreta pelo deus do Caos - e sempre exasperei os clérigos e mestres com todos os meus "por quês".

Os anos da minha infância foram muito confortáveis até que meu pai decidiu casar-se com outra nobre. Um casamento adequado, motivado por interesses e estratégias claro, porém com uma esposa de verdade, uma mulher que Lorde Lars poderia amar - e que poderia lhe dar filhos dignos. Sempre tive uma boa relação com meus meio-irmãos, mas Lady Alendronel me desprezava, desde a primeira vista, sendo imune aos meus encantos de criança bonita, inteligente e carismática. A jovem esposa do meu pai sempre viu em mim uma ameaça, e apesar de pouco poder fazer para retirar meu conforto ou a minha posição, não hesitava em lançar-me palavras ácidas pelas costas do marido. Lady Alendronel foi o estopim que mudou a minha vida, e apesar de toda a inconveniência que ela já me causou, até sinto-me grata pelo que ela veio a fazer.

Eu era uma ameaça conforme eu crescia - parecida com a vagabunda que tinha sido a minha mãe e ainda por cima, meu comportamento era inapropriado demais. Lady Alendronel não podia me tolerar naquela casa que era sua para governar - portanto, precisava livrar-se de mim. O jeito mais simples foi convencer meu pai que uma filha que estava atingindo a maturidade, mesmo que fosse bastarda, podia render uma boa aliança com alguém (claro, Lady Alendronel jamais me daria um casamento com um nobre, já que eu era uma bastarda e jamais poderia me igualar a ela em status... mas qualquer casamento serviria). Foi ela mesma quem achou um comandante vassalo de seu pai, e que convenceu meu pai a preparar os arranjos para que eu viajasse com o dote o quanto antes fosse possível para conhecer meu novo marido, casar e nunca mais aparecer na sua frente novamente.

Então seria aquilo: o destino pretendia reservar para a mim a vida de esposa e mãe, cuidando da minha própria casa, parindo meus filhos e envelhecendo enclausurada. Nada parecido com o que eu sentia que poderia ser o meu caminho, de forma alguma similar com o que eu poderia ambicionar. De repente, eu senti que não poderia fazer mais aquilo e que a casa do meu pai não era nem nunca tinha sido um lar. Eu precisava partir. Juntei meu dote (que, afinal de contas, pertencia-me então, já que eu decidia ser a minha dona ao invés de pertencer a um marido) e deixei uma nota curta para meu pai, sem perceber que era muito parecida com a que ele recebera um dia: "Desculpe desapontá-lo, mas meu coração é livre e eu jamais poderei corresponder ao que você espera de mim."

Roubei um cavalo e fugi, na calada da noite, para o mais longe que eu pude fugir. Se Lorde Lars me procurou eu não sei, mas temia que homens fossem enviados ao meu encalço e por isso quando eu finalmente achei um lugar para parar não ousei usar o nome que ele havia me dado. Eveleen havia ficado para trás junto com o meu bilhete, e por isso, adotei o nome pelo qual somente minhas aias me chamavam - Evey. Alguns anos mais tarde somei ao novo nome a minha alcunha, Lainhûr*, que em élfico significa coração selvagem.

Meu dinheiro me sustentou por um tempo, mas mesmo assim, eu precisava de algo para fazer. Não me rebaixaria ao nível de me prostituir, já que meu compromisso era com a minha liberdade e com o meu livre arbítrio. Ainda assim, o mundo das tavernas, bares e bordéis era convidativo - e aproveitando meus talentos, ofereci meus serviços como menestrel. Construi minha fama através do meu esforço e trabalho árduo, e foi através dos meus méritos que cheguei onde cheguei hoje.

Estou em Abstein(*) há 10 anos já. Estabeleci meu nome como barda e menestrel, o que me dá acesso a praticamente qualquer taverna onde eu queira ir - além de bons quartos, boa bebida, boa companhia e boas mesas para se jogar e apostar. Ainda que uma barda com tendências boêmias não seja exatamente bem vinda em salões mais dignos, tenho prática o suficiente com os nobres para saber como me infiltrar quase onde quer que eu vá - o que é muito útil e rende um ou outro serviço bem pago para ouvir e reunir conhecimento. Afinal, quem suspeitará daquele que conta as estórias?

E assim chega ao fim meu relato, meus caros ouvintes, uma vez que esta é uma história com páginas em branco ainda a serem preenchidas. Para onde minha história me levará, que palavras completarão minha canção? Isto só o tempo (ou meu bom amigo de todas as horas, meu caro Oliddamara) poderá dizer.


* Do sindarin: "lain" livre e "hûr" coração, espírito. Créditos pro Tolkien! ;)


Evey Lainhûr, elfa, barda, CN
FOR 16, DEX 22, CON 16, INT 18, SAB 18, CAR 24
Display: 1,60m, 50kg, cabelos ruivos, compridos, ondulados; olhos verdes, tatuagem tribal/espirais do ombro esquerdo até o cotovelo, tatuagem de Olidammara na região da escápula direita; armadura de couro estonado e batido no estilo de um sobretudo/corset dress; botas de cano longo (até a coxa) também de couro estonado e batido; manto do carisma (Verde escuro, com galões de prata decorando a barra e o pescoço e um fecho de prata polida trabalhada), chapéu de abas largas, castanho, com plumas vermelhas. Usa um arco longo composto e carrega consigo um alaúde.

sábado, 20 de agosto de 2011

The Party


Juro, é a última figura que eu posto! Hahaha




(not =P)

Beijos povo! ;)

terça-feira, 16 de agosto de 2011

Mais desenhos

O Ig falou pra eu desenhar o Kas. Achei que desenhar só o Kas seria sacanagem, então decidi fazer os outros dois personagens ativos atualmente. Aqui em baixo vão minhas interpretações do Baco Grogan, El Kas e do Hael Battlecrown:



Algumas explicações nos outfits:

Baco: Eu sempre imaginei o Baco um bon vivant, então nada mais natural do que ele usar as roupas antigas que ele trouxe com ele quando veio embora pro Copo Sujo, além de algumas jóias menores. Claro, tudo pra manter a "harmonia arcana" ;)

Kas: Acho que a minha maior dificuldade seria imaginar o que o Kas vestiria... mas então eu parti da idéia de que como devoto de Obad-Hai, ele usaria as roupas surradas de um peregrino/viajante. Como não ficou tããão com cara de Druida, acrescentei o cajado. E Ig, a tatuagem de Corellon tá ali, mas não apareceu bem por causa da máscara (está escondida atrás do manto e da blusa)

Hael: Na primeira vez em que eu imaginei o Hael, eu imaginei ele com aquela aparência meio "romana": cabelo e barbas bem aparados. Por algum motivo, eu imagino os Paladinos assim. Mas depois desencanei e fiquei imaginando que, depois de não sei quanto tempo debaixo da terra, preso por drows, tendo que usar armaduras com o símbolo de Lolth e tudo, o Hael desencanaria e deixaria barba e cabelos mais bagunçados (até porque é o paladino do Miro e acho que Kord não se importaria com seus paladinos serem barbudos XD)
Quanto à armadura, eu sei, ficou bem elaboradinha... mas o pai do Hael é um oficial importante e ele vêm de uma família abastada. Imaginei que o Sr. Battlecrown se sentiria honrado ao presentear o filho com uma armadura bonita, dedicada ao deus das batalhas - e Kord se orgulharia de um guerreiro sagrado devoto seu com uma armadura fuck yeah.



É isso. Meninos (e Pati!) espero que vcs gostem, e desculpem qualquer coisa fora da imaginação de vcs... fui pelo que eu pensava mesmo =)


Beijos!
Lari

domingo, 7 de agosto de 2011

Irina

Porque hoje eu me senti no humor pra desenhar e colorir (mesmo que porcamente). Sim, tem erros anatômicos/desproporções e coisas incompatíveis com os equipamentos que a ela tá usando atualmente, mas tá bom de qualquer jeito! =P

Aqui a Irina Galanodel, do jeito que eu imaginei (com uma faca de caça, pq não descobri como colocar uma cimitarra naquela posição). Desenhado à mão/colorido no photoshop.

Boa semana pra vcs, e vamos voltar a jogar pq eu tenho saudades!!!!



Beijos,
Lari