sexta-feira, 29 de outubro de 2010

Kas e Lobo

galera, achei uma imagem show de bola.. mas o Lobo não tem óculos xD e o Kas tem orelhas um pouco mais pontudas.. rs.

Fonte: Oh-Magod

Uma voltinha no DeLorean

Fraëa estava sentada num dos galhos mais baixos e mais grossos da aveleira. Seu semblante era calmo, apesar das notícias que recebera de Kas. Distraidamente, ditava as últimas histórias para a pena mágica que escrevia em seu diário. Esta pena havia sido um presente de Emel, para que a elfa pudesse registrar todas as histórias que ela quisesse de uma forma que os outros pudessem ler e que ela pudesse consultar quando quisesse.

Uma suave brisa soprava e fazia com que uma mecha de cabelo insistente se desprendesse de seu cabelo e lhe fizesse cócegas no rosto. Ela estava bem consciente do silêncio barulhento em que se encontrava. As folhas da aveleira farfalhavam ao roçarem umas nas outras impulsionadas pelo vento. O capim baixo que crescia ao redor da imponente árvore sussurrava delicadamente e os gravetos e folhas secas estalavam no sol. Nada disso a perturbava. Por dentro, porém, seu coração estava apertado. Já fazia quase um ano desde a última vez que havia visto o Pequeno Elfo e mais de seis meses desde as últimas notícias que Kas havia lhe enviado e elas, apesar de boas notícias, não eram notícias agradáveis. Pois, por vitoriosos que eles fossem, batalhas ainda eram sangrentas e Fraëa se preocupava com a segurança dele e de seus amigos.

Fraëa acariciou o ventre, imaginando se o pequeno ser que ali se encontrava seria um pequeno elfo ou uma pequena elfa se desenvolvendo e se preparando para o mundo hostil e cruel que lhe receberia.

Uma lágrima silenciosa rolou por seu rosto e respingou no tronco da frondosa árvore. Várias outras seguiram a primeira e rolaram silenciosas árvore abaixo. De onde a primeira lágrima tocou quando caiu começou a brotar um novo galho, que cresceu com velocidade espantosa, alimentado pelas lágrimas da elfa, em direção a seu rosto. As folhas que cresceram em sua ponta formavam a silhueta de uma mão em cuja palma havia uma noz de avelã.

As folhas roçaram o rosto de Fraëa e ela riu, sentindo cócegas. Ao estender a mão para afastar o galho, sentiu a noz presa nele. Ela a colheu e prendeu o galho em outro galho próximo. Distraidamente, abriu a noz de avelã com os dentes e a comeu. Quando as lágrimas cessaram, continuou ditando histórias para a pena mágica, mas algo lhe chamou a atenção.

Agora, ela ouvia ainda mais nitidamente o arranhar da ponta da pena no grosso volume que era seu arquivo de histórias, e, voltando o rosto na direção do som, ela conseguia discernir os contornos da pena vagamente, mas não os do livro. Intrigada, ela parou de ditar e, após a pena terminar de escrever a última palavra, ela não conseguia mais dizer onde a pena estava exatamente sem tatear.

Voltando o rosto para cima, ela conseguia discernir as folhas farfalhando umas contra as outras ao vento. Quando a brisa parava por algum momento, ela deixava de percebê-las, retornando a percebê-las quando a brisa recomeçava.

Seu coração estava acelerado no peito e ela mal conseguia pensar. Começou, então, a murmurar uma melodia que a fazia lembrar-se de sua infância. Imediatamente, os contornos das coisas ao seu redor foram ficando nítidos e ela começou a enxergar, ainda que precariamente, os galhos onde estava sentada, o livro onde sua pena repousava, as folhas e avelãs ao seu redor.

Ela, então, passou a cantar mais alto, entoando uma melodia grave e agitada. As formas que estavam mais longe dela começaram a ser discerníveis e logo em breve ela estava cantando a plenos pulmões, tentando descobrir até onde ela poderia "enxergar".

Voltou, então, correndo para a vila e bateu desesperada na porta de Emel. Emel atendeu intrigada. O que seria tão urgente para tirá-la de seus estudos com tanta pressa?

Fraëa lhe disse, então

- Siga-me! Rápido!

E saiu correndo em direção à floresta. Emel gritava para ela não correr tão rápido senão ela ia tropeçar e se machucar. Fraëa nem lhe deu ouvidos e continuou correndo e rindo, correndo e cantarolando, feito uma criança.

Emel já estava esbaforida, mas estava também surpresa. O caminho até a floresta não era dos mais planos e dos menos acidentados, fazia várias curvas e tinha algumas pedras, algumas raízes de grandes árvores no caminho, e Fraëa não tinha sequer esbarrado em nenhum obstáculo. Pelo contrário, ela os saltava e evitava com a maior graciosidade.

Chegando à margem da floresta, Emel observava, incrédula, Fraëa saltitar por cima de raízes e por baixo de galhos, se abaixar bem a tempo de evitar bater a cabeça em um galho enorme e espinhoso, saltar por cima de um buraco ao mesmo tempo em que desviava de um trecho de urtiga venenosa rasteira.

Fraëa só parou quando chegou próxima à Aveleira Sagrada. Sua intenção, originalmente, era mostrar a Emel o galho que havia crescido ao seu lado, mas ela estava tão estupefata quanto a Druida.

Em baixo e ao redor da Aveleira havia um pequeno lago onde poucos minutos antes não havia nada. Outro druida que estava ali antes delas chegarem se aproximou delas e disse que viu o que aconteceu, mas que elas provavelmente não iriam acreditar.

Ansiosas e curiosas, as duas lhe disseram para deixar os preconceitos de lado e contar duma vez o que havia acontecido. Ele, então, narrou como havia chegado até ali, atraído pela bela voz de Fraëa. Ele ficou quieto, observando a elfa sussurrar uma canção muito bela, enquanto suas lágrimas escorriam pelo tronco e se acumulavam no chão, na base da árvore. Ele viu quando Fraëa saiu correndo de volta para a cidade e, mais do que isso, viu a poça de lágrimas se espalhar e ir aumentando cada vez mais, até atingir o presente tamanho.

As duas estavam assombradas com a história do elfo, mas Fraëa estava ainda mais. Emel se aproximou do lago e notou que ele era relativamente raso. Um espelho d'água. Ela entoou alguns cânticos e disse, surpresa:

- A água é pura.

Ela então agradeceu a Corellon e a Obad-Hai pela bênção e passou levemente os dedos pela superfície da água, fazendo com que pequenas rugas se formassem nela. Nisso, ela entrou em transe e ficou um longo tempo tangendo a água com os dedos. Quando ela saiu do transe, ela se virou e disse a Fraëa:

- É um menino e se parece muito com você, embora tenha os olhos do pai. E Kas volta em uma semana. Alegre-se.

quinta-feira, 28 de outubro de 2010

BG Liahra.

Segundo um e-mail da Bah:

Agora que eu lembrei que eu nunca escrevi a história da Liahra!
Desculpa gente, aí vai:

Quando Liahra ainda era um bebê, sua floresta foi destruida, e todos morreram, exceto ela. Alguém que passava pelos destroços do que um dia havia sido uma aldeia élfica ouviu o bebê chorando, e o deixou na porta do templo de Corellon, que se situava nas proximidades.
Liahra cresceu no templo e se formou uma clériga. Entretanto, nunca compreendeu a exclusão da sociedade. Ficar trancada num templo, orando pelo mundo, não o faria melhorar. Liahra então resolveu se atirar no tal lugar cheio de problemos, iniquidades e guerras, para lutar, e fazer o bem, em nome de Corellon.
Sempre ouvira dizer que os lugares mais cheios de problemas, iniquidades e guerras eram as tavernas, então entrou na primeira que encontrou: O Copo Sujo. Após alguns minutos lá dentro, conheceu muitas pessoas interessantes e boas, muito mais felizes, altruístas e humildes do que muitos dos sacerdotes hipócritas, reclusos e arrogantes com quem conviveu por toda sua vida. Ficou deslumbrada ao ver como o mundo funcionava bem, com as pessoas interagindo, e como era bonito, feliz e divertido, e fez grandes amigos.

Agora ela tá numa viagem ca galera pra matá uns maluco que chegaram aloprando ae e dexaram geral atordoada na taverna. Bem loco!
xD

Beijos, amo vcs!

quarta-feira, 27 de outubro de 2010

Solo, Versus and Free-for-All! (BG Hael)

Hael era um verdadeiro "playboy", como diriam. Filho de um general de Bantur, chefe da guarda.
Sua mãe, professora de flauta da academia de Bantur, elegante e educada.

Sua infância foi à base de mimos, aulas, e festas, as quais não se sentia muito confortável devido ao seu físico "avantajado", por assim dizer...

Com 10 anos, seu pai insistiu em colocá-lo na academia militar de Bantur, para "perder os músculos abdominais". Não gostou da idéia, mas adotou o estilo do pai. Aulas de esgrima, tática, ética em batalha, filosofia... Como esperado pelo pai, atingiu o topo de sua classe em pouco tempo, sendo elogiado pelos professores, colegas, e todos à sua volta.

Durante uma das suas aulas de esgrima, foi atingido na cabeça por seu adversário, caindo inconsciente e sendo levado para a enfermaria. Lá, em meio aos tratamentos, um clérigo foi convocado para prestar atendimento, já que o garoto não acordava, independente das infusões, ervas, mandingas e trubiscos aplicados nos seus ferimentos. Chegando em frente ao garoto, o clérigo rezou, pediu e tentou, mas sua mágica não surtiu efeito algum no garoto. Então, deixaram-no "descansar", já que não conseguiram fazê-lo acordar, e seu ferimento parecia ter estancado.

Após a pancada inesperada, tudo tinha ficado preto, e Hael tinha acordado nu em uma sala com archotes acesos em volta, mas sem portas, janelas, ou algo discernível além das pedras no chão, paredes e teto. Em meio ao seu desespero, uma voz masculina forte e imponente diz: "Para sair dessa sala, você deve batalhar consigo mesmo, seus medos e angústias, e sair vitorioso. Sua força é apenas sua para usar, mas para fazê-lo, não pode ser por você. Hael, desesperado, começou a procurar saídas, alavancas, portas secretas, como aquelas dos contos os quais ouvia dos bardos que visitavam sua casa. Sem conseguir encontrar nada, desistiu.

Olhou, e estava em uma arena. Estava com calças, botas, e braceletes de couro. Do outro lado da arena, um homem com sua estatura, armadura de cota de malha, elmo, carregando uma espada longa e um escudo, corria em sua direção. Ouvindo gritos da platéia, mas olhando para a mesma, não via as pessoas, só sombras semi-transparentes. "Estou morto, e essa é minha punição por algo que não lembro de ter feito. Pois que seja, o enfrentarei, o vencerei, pois sou o melhor de todas minhas aulas! Da minha academia!!!" e correu em direção ao homem de armadura, desarmado, semi-nu, e sem estratégia alguma para mantê-lo vivo, acreditando estar morto. Aos primeiros golpes, Hael conseguiu desviar da espada e do escudo do homem, mas após o que pareceram horas de combate, sem conseguir encontrar uma brecha para atacar, e só conseguindo esquivar-se dos golpes, Hael começou a duvidar de si mesmo, e por fim, sentiu o aço da espada gelar-lhe o ventre, quando a estocada do desconhecido atravessou-lhe a barriga. Ao sentir o aço esquentando em seu ventre, e a lâmina sendo puxada para outra estocada, a voz de antes, forte e imponente toma um corpo, e diz "...você deve batalhar consigo mesmo, seus medos e angústias, e sair vitorioso. Sua força é apenas sua para usar, mas para fazê-lo, não pode ser por você. Derrote seus medos, e acorde."

O cenário muda, campo de batalha, centenas, milhares de corpos mortos, armadura pesada de batalha branca, espada larga embainhada nas costas, e um oponente do outro lado do campo. Sem pensar, Hael empunha a espada, toma posição, e grita sem saber o motivo, pois veio à cabeça: "Pela forçaaa!!!". E corre como nunca correu antes, sentindo os músculos das pernas estirarem sob o peso da armadura, os músculos dos braços quase se rompendo quando sua espada se choca contra o escudo do adversário em armadura negra reluzente... Após a batalha, os corpos mortos se levantam, empunham suas armas e uma batalha sem precedentes começa para Hael. O que pareciam segundos poderiam ser horas, dias, meses ou anos, mas ele não se importa. O que o marcava eram as palavras ditas em sua mente e, por isso, lutava.

Na enfermaria seu pai e sua mãe, junto dos melhores curandeiros, mandingueiros e médicos que o dinheiro poderia comprar, estavam abismados com coisas que não deveriam acontecer. Enquanto Hael resmungava e se debatia amarrado na cama, cicatrizes apareciam em seu peito, braços, pernas e rosto, como se tivesse lutado por anos a fio, mais anos do que sua idade, com uma gota de sangue saindo de cada cicatriz nova que aparecia. Clérigos e magos presentes não conseguiam sequer explicar o que acontecia ao garoto. A única coisa dita que veio a fazer algum sentido na hora foi uma velha curandeira, hoje falecida, que falou: "Isso é um teste dos Deuses, devemos ter fé, e rezar para que ele passe...". Mas como bons céticos, os magos ignoraram a idosa. Os clérigos estavam frenéticos em seus encantamentos, preces e rezas para que o garoto acordasse, mas sem efeito nenhum.

Após a desistência de todos, seus pais deixaram a enfermaria da academia, e voltavam todos os dias, só para encontrar mais cicatrizes no filho, enquanto as enfermeiras molhavam panos e limpavam o sangue que começou a cair após o sétimo dia de "sono", uma gota de cada cicatriz. Após um mês, o garoto sentou na cama, gritou, colocou as mãos na barriga, como se tivesse
levado um golpe no estômago, e caiu em um sono mais profundo ainda.

Hael olhava para os lados e o número de inimigos que tinha derrotado tinha passado seus sonhos mais violentos. Ele
perdeu a conta na casa dos quarenta, cinquenta... mas pelo que via, o número de corpos despedaçados passava da casa das centenas,
enquanto a sombra da voz poderosa observava de cima. Quando o último foi derrubado, a sombra desceu na frente de Hael, que a atacou em vão, desistindo após ver que seus golpes ricocheteavam em alguma força. Ele então ouviu a sombra dizer: "Parabéns. Seus medos foram derrotados, um a um, cada um com seu custo em sangue pago. Agora, descanse. Após seu descanso, você começará sua nova vida. Meu nome é Kord. Não esqueça das provações passadas aqui, pois todas foram para algo maior.". E então, a sombra tomou forma como um homem grande, em armadura, com uma espada larga na cintura. Acenou para Hael, o qual devolveu o aceno com uma reverência, sem conseguir pronunciar palavra alguma, e o homem sumiu.

Seis anos depois, tratamentos, magias, ervas e trubiscos ainda não surtiam efeito, mas o sangue não caía mais de suas cicatrizes.
Hael tinha mudado. Ele tinha perdido seus "músculos abdominais" (segundo o pai), seu tom de pele tinha se abrandado, ficado mais claro, mais pálido. Cabelos cresceram, barba cresceu, mas foi aparada. As enfermeiras cuidavam dia e noite do garoto, que agora era um homem em sono eterno. Um dia, uma enfermeira encontrou Hael sentado na cama, olhando envolta, como se estivesse curioso, e o garoto pergunta: "Aonde estou?". A enfermeira correu como nunca correu em sua vida gritando "Hael acordou! O garoto adormecido acordou!!!". A balbúrdia que se seguiu foi algo digno de debandadas de guerra após uma derrota. Todas as enfermeiras, magos e clérigos foram ver, e seus pais, que estavam chegando, se perguntaram, aflitos, o que poderia ter acontecido para que todos corressem. Uma enfermeira a qual foi bruscamente interrompida em sua corrida disse "O garoto acordou!" e o pai e a mãe de Hael, incrédulos, correram com todos para o quarto onde Hael estava hospedado.

Após muitos exames, muitas opiniões, e muito choro por parte dos pais de Hael, o garoto foi liberado e o pai disse: "Descanse meu filho, você precisa. Semana que vem você retorna para a academia, para a alegria de seus colegas."

"Não pretendo voltar para a academia, Pai. Tive um sonho e vou seguir o que foi-me dito por Kord e correr em direção ao meu destino." Hael estava mudado, física e mentalmente. O pai que antes daria uma bronca filosófica e militar sobre o destino do filho, viu em seus olhos que não havia mentira no que ele disse e que, se fosse verdade e Kord realmente o tivesse "salvo", ele estaria bem aonde quer que estivesse.

Após chegar em casa, a festa de retorno milagroso, e a Partida para o Destino, Hael se encontrou com um amigo de seu Pai em um templo de Kord, pedindo ajuda divina para encontrar seu filho que havia sumido há mais de dez dias. O homem era Manden Doritz, amigo de seu velho pai, e Hael se ofereceu para encontrar o garoto. Manden ficou felicíssimo e prometeu uma enorme gratificação ao templo se seu filho fosse encontrado.

Antes dessa busca, Hael participou de escoltas de banqueiros, batalhas para recuperar vilas contra goblins, kobolds, orcs... Ganhando renome foi recrutado para escoltas de nobres, duques, condes, e mercadores inimaginavelmente ricos de outras regiões e acabou ganhando o sobrenome "Battlecrown, a Coroa da Batalha", devido à forma digna, imponente e perseverança que demonstrava toda vez que empunhava sua espada e sempre que o nome de Kord estava envolvido, seja a pedido do templo ou particulares.

Hoje, 19 anos, homem formado, cabeça forte e resoluta, Hael se encontra em uma caverna com Arthur Doritz, filho de Manden, amigo do pai. Mas ele não está só, ele tem colegas de batalha que são uma família no escuro de uma caverna...
Mas essa fica para a próxima...

terça-feira, 19 de outubro de 2010

Cegueira

-Bom dia, queridas crianças... – Saudou Fraëa.

- Já lhes contei como fiquei cega? Pois então, larguem seus instrumentos, hoje a aula será diferente... – E os olhos dos pequenos elfos brilharam de excitação - Muitos de vocês conhecem os Druidas de nossa vila, alguns são até filhos deles, não é mesmo? Pois bem, assim foi comigo também, quando tinha vossa idade...

- Quando eu era apenas uma criança tola, com meus 25, anos de idade, minha tia Emel... Calma crianças, ouçam com atenção. – interrompeu-se Fraëa - Como eu dizia, quando era apenas uma criança, tia Emel sempre dizia, “fique longe das coisas dos Druidas, Druidas não são tão brincalhões como os bardos, que tanto adora, respeite-os, e eles a respeitarão!”

- O que houve? – Perguntam as crianças, levantando-se de excitação.

- Com calma chego lá, sentem-se... Nesta época, eu costumava ouvir AhDul, o Afiado, como vocês o fazem, hoje aqui comigo. – Falou, e as crianças olharam com cara de espanto, AhDul fora o mais encrenqueiro e desbocado Bardo que a vila já vira, até encontrar seu fim, na espada de um taverneiro qualquer - Naquela época nós crianças não tínhamos lições sobre todos os assuntos, escolhíamos um, e o seguíamos. Tia Emel ficou desapontada quando escolhi ser Barda, mas não me criticou, e até disse que tinha uma linda voz.

- Eu tinha também outros tutores, mas me afeiçoara a AhDul. AhDul costumava nos incentivar a fazer o que os outros nos proibiam, dizia-nos que o mundo era dos curiosos. Se soubesse as conseqüências da curiosidade irresponsável, não viveria no escuro.

- Oh! – chocaram-se as crianças.

- Em alguns anos, aprendi a contar histórias e também a cantar, enquanto tocava esta harpa. – E uma harpa de prata surgiu em sua mão esquerda – Nesta época, os anciões acharam por bem que nós, jovens, aprendêssemos também um pouco das outras artes. Nem todos gostaram da idéia, os Druidas são muito fechados, e não gostam de dividir seus segredos. Ensinaram-nos o básico, como sentir o cheiro do vento e prever a chegada da chuva, a cuidar de amigos feridos, até que os curandeiros chegassem, e também como é importante cuidar da floresta e dos seres que nela habitam. Nunca nos ensinavam, porém, coisas mais complexas, ou deixavam que nos aproximássemos da Clareira do Druida.

- Eu gostava das aulas com os Magos, mas eram muito metódicos, preferia os Feiticeiros, que deixavam a vida fluir de modo mais natural. Tive também aulas de Arquearia, que me deixaram em dúvida se queria mesmo cantar e contar, para todo o sempre... Com as espadas nunca me dei bem, mas o básico me foi ensinado. Aprendíamos também com os artesãos, que nos ensinaram a beleza que as coisas podiam ter, com os Clérigos aprendemos sobre os deuses, e a criação das raças e do universo... Ouvíamos, também, histórias sobre outras profissões, umas mais belas, como os Nobres Paladinos que costumavam residir em Bantur, e outras um pouco menos nobres...

- Sempre gostei de aprender, acho que é por isto que gosto de ensinar... Mas, para todos os bons conselhos, sempre tinham as contrapartidas de AhDul. Ele era um Mestre dos contos, não cantava muito bem, mas contava como ninguém. Sempre nos contava histórias fantásticas sobre ladrões, que roubavam, aos poucos, todo o tesouro de Enormes Dragões... Infelizmente, só depois que fiquei cega, é que perguntei a ele o que acontecia depois que eles roubavam o tesouro. Não gostaria de ter o destino deles...

- OH! – Gritaram as crianças.

- FRAËA, VOCÊ AINDA NÃO NOS CONTOU COMO FICOU CEGA! – Gritaram algumas.

- Ora, não sejam apressadas, crianças! – Ralhou a Tutora – Falta pouco, já chego lá...

- Tia Emel já era, naquela época, a Curandeira mais experiente da vila. Eu conhecia alguns outros Druidas, e conhecia o suficiente de seus hábitos, para saber que alguns se dedicavam a cura, alguns aos seus animais, enquanto outros gostavam de virar animais, ou ainda canalizar a magia da terra e alterar a verdade a sua volta.

- Emel é a mais complacente Druida que conheci, deixava seus livros e pertences guardados, mas nunca me impediu de vê-los, tocá-los ou até lê-los. Só existia UM livro que nunca me deixou encostar, disse-me que nele existiam Runas, e que sempre que as visse, deixasse de lado a curiosidade. Seguindo os ensinamentos de AhDul, achava minha tia uma tola. Buscava de todas as formas possíveis descobrir o que significava e, um dia, descobri o significado de uma combinação de Runas.

- Tudo bem, Fräea? – perguntaram as crianças mais atentas. Fraëa havia suspirado, e controlado o choro.

- O que diziam as Runas? – perguntaram as outras crianças.

- Tudo bem, queridos, já devia ter me acostumado com meu passado. – um momento de pausa, e prosseguiu – As Runas diziam “Brilho do Sol, Cegue o Inimigo” – A voz da Elfa era triste, e cheia de emoção e arrependimento, quando duas lagrimas rolaram por seu rosto. – E então as Runas Brilharam, e o mundo escureceu. Acordei quatro dias depois, com uma venda nos olhos, e Emel ao meu lado. Estava aflita, e pedi que Emel retirasse a venda de meus olhos, não agüentava mais a escuridão. Percebi que Emel chorava, e me pedia desculpas por ser tão descuidada. Pelos sons descobri que haviam outros no quarto, ou onde quer que eu estivesse. Reconheci algumas vozes, eram os Druidas, eu devia estar na Clareira do Druida. Parei e ouvi, como faria para sempre, daquele momento em diante.

- Alguns diziam: “Como pode deixar o Livro de Runas descuidado, Emel? Crianças não deveriam chegar perto dele! A menina está cega, e nem mesmo você pode curá-la” – Enquanto outros diziam: “Não se preocupe, Emel, acharemos uma cura, a culpa não é sua, a menina sabia que não deveria ler as Runas!”

- Emel se Culpava pelo que havia acontecido, e disse que eu poderia ter morrido. Disse até que não era digna de ser uma curandeira, se expunha a própria família a riscos como este. Percebi o estrago que fiz, e tentei remediar as coisas, disse a ela que a culpa era minha, que as aulas de AhDul me deixaram curiosa. Neste momento, lembro-me do silêncio que se formou na Clareira. A muito os Druidas tinham motivos para não gostar de AhDul, mas agora seus conselhos mal-dados tinham deixado uma criança cega e destruído a honra da Ordem.

- A culpada fui eu, mas os Druidas não viam desta forma. Tentaram expulsar AhDul da vila. Os anciões não permitiram que tal fosse o destino do Bardo. Apenas proibiram-no de ensinar. Era um Bardo, impedido de contar. E como tal, decidiu por si só abandonar a vila. Muitos anos depois, um viajante contou que AhDul fora morto, numa taverna, onde se engraçou com a esposa do taverneiro.

-Alguns dias depois do despertar escuro, eu já estava bem, Emel retirou a venda de meus olhos. Disse que estavam perfeitos (ainda que tivessem mudado de cor. Antes eram verdes, agora tinham um tom de castanho esverdeado, como folhas prestes a cair, no outono), que não haviam deformações. Ao mesmo tempo fiquei aliviada e horrorizada. Se não havia nada de errado, por que não enxergava? Muito tempo se passou, sem que eu tivesse sequer vontade de ouvir, quanto mais de contar. Com o tempo reaprendi a viver e meus ouvidos passaram a ser meus olhos. Voltei a cantar e contar, e por vezes conto esta história, quando acho que abrirá os olhos de alguns.

- Os Druidas até hoje não encontraram uma cura para mim. Mas aprendi uma lição, e vocês sabem qual é?

- Que os druidas são perigosos? – respondeu uma criança, amedrontada.

- Que não deve mexer no que não lhe pertence? – tentou outra.

- A respeitar o que os mais velhos dizem, mesmo que não entendamos? – perguntou outra, com um tom pomposo.

- A não ler coisas em línguas estranhas? – e outras sugestões foram dadas.

- Não – Disse Fraëa, apesar de ter gostado de algumas das respostas – Não, meus queridos, aprendi que o mundo não é dos curiosos, o mundo é dos Sábios. Sejam curiosos, mas sejam sábios e distingam quando a curiosidade é apenas uma vontade, e quando ela é necessária.

segunda-feira, 18 de outubro de 2010

Banner

Se alguém aí tiver o mesmo problema que eu com o banner (fundo preto) sugiro:

domingo, 17 de outubro de 2010

Fraëa, a Barda

Certo dia há uns sessenta e poucos anos, minha tia Emel, conhecida como A Curandeira, voltou de suas andanças contando sobre um pobre casal halfling que não podia ter filhos. Ele, um adepto do templo de Yondalla, ela uma artesã de família nobre, algo neles a fez crer que seu filho seria, de certa forma, predestinado. Contou-me que sua história era sofrida e que resolveu ajudá-los. Ela sabia que se continuassem na cidade, vivendo preocupados em busca do filho, nunca teriam condições de conceber, portanto, calculou quanto valia as posses do casal, e disse a eles que a cura para o seu mal lhes custaria uma moeda de ouro.

Desesperados como estavam, o casal abriu mão de tudo o que tinham, porém, seus motivos não eram nobres, visavam adquirir o patrimônio da família dela. Emel entregou-lhes uma poção, que realmente seria capaz de curar qualquer motivo físico para que Garim não concebesse. Contudo, enquanto não tivessem na vida motivos nobres, Emel sabia que o Pai da Vida não lhes concederia o filho. Muitos anos se passaram, minha tia mantinha um olho junto aos dois, sempre que possível, e demorou alguns anos para acreditar que seus motivos pouco nobres alimentassem uma gestação.

Anos depois, parece que descobriram que ter um filho para ganhar dinheiro era mesquinho, e também que não precisavam disto para ser felizes. Ele curava as pessoas, ela fazia sua arte, ambos encontraram a felicidade em seus trabalhos, e descobriram um belo amor.

Mais ou menos nesta época, Emel decidiu que poderia dar aos pequenos a sua localização. Não teria sido difícil para eles encontrá-la, mas buscavam no local errado, eram meio tolos.

Conheci-os há cerca de 20 anos, eram um belo casal (não no sentido estético, pois não saberia dizer), percebi por suas vozes que eram boas pessoas. Chegaram no outono, e Emel passou um de seus maiores períodos distante da Vila. Fiquei preocupada, mas não havia muito que eu, uma elfa cega pudesse fazer. Durante este período, percebi que o casal estava muito feliz, e foram muito bem recebidos por meu povo. Lhes fizeram uma casa, e depois de quase um ano, no final do outono seguinte, nasceu Kas.

Infelizmente a sorte de Garim e Nom não foi das mais belas, ela não chegou a amamentar, e ele entrou em um estado de tristeza tão profundo, que sequer aproveitou os dois anos em que conviveu com o filho.

Emel, que chegou a tempo de salvar Kas, e dar a Garim um enterro digno, sabia de seu dever para com aquela criança, e decidiu criá-lo como filho. A principio era estranho ter um primo que se desenvolvia tão rápido. Nós elfos viramos adultos aos 110 anos e, aparentemente, aos 17 ele já era um homem feito. Todos diziam que seu porte e sua aparência lembravam os de um elfo, mas isso nunca saberei.

Durante a criação de Kas, em muitos momentos me senti preterida. Minha tia dizia que ele tinha talento, que seria um grande curandeiro. Ela dizia que eu não era muito sábia, por não saber valorar os dons do pequeno (que, dizem, é bem alto para sua raça). Nos tornamos amigos e, por volta de seus 17 anos, nos tornamos mais que isto. Nesta época, incentivado por Emel, ele embrenhou-se no mato, e fez por lá o Ritual da Conexão, não sei explicar exatamente o que é, mas dizem que após beber o chá, os deuses lhe mostram verdades.

Quando retornou, passou a me tratar de forma diferente, era mais meigo e doce do que antes costumara ser. Passou a despender mais tempo ouvindo minhas músicas e poemas. Disse que ficava fascinado com a forma como eu contava uma história, mas acho que era apenas uma forma de me ver sorrir. Dizia que meu sorriso iluminava o dia (estranho, pois todos me diziam que era o olhar dele que o fazia, diziam que tinha olhos e cabelos de sol, assim como me disseram que meus cabelos eram da cor da avelã, e meus olhos da cor das folhas de outono, antes de caírem).

Após o ritual, ele se tornou mais próximo, e ao mesmo tempo mais independente. Dizem que tem a ver com a tatuagem do rosto de Obad-Hai que apareceu em suas costas. Começou a fazer suas viagens para Bantur, e a passar cada vez mais tempo por lá, mas sem nunca passar mais de um mês sem me visitar. O que me tranquilizava era Lobo, que está sempre com ele.

O que me preocupa, é que há mais de um mês ele se foi, com seus novos companheiros de Bantur, atrás dos estranhos rastros que vinham sendo deixados na floresta. Emel me proibiu de sair da vila. Não fosse o escuro em que vivo, me sentiria humilhada, por ser mandada ficar em casa, aos 113 anos de idade.

Pergunto-me se meu pequeno está bem, mas não há nada que possa fazer. Meu coração se aperta a cada pensamento, e minhas músicas e poemas estão cada vez mais tristes e angustiados. Espero ter noticias em breve.

quarta-feira, 13 de outubro de 2010

El Kas, a Avelã, a Lua e o Livro.

Antes do que passo a narrar, lembro apenas de sentar ao pé do fogo, no escuro dormitório subterrâneo. Movido pelos instintos habituais, preparei quase sem perceber a combinação de ervas do tão conhecido chá que responde à todas as perguntas, mesmo que para elas não se tenham feito perguntas. Desculpem-me se a qualquer momento parecer ou for confuso, mas é dificil transformar o mundo de lá em palavras.

No momento seguinte, me vi andando por mais um daqueles odiados corredores escuros. Estranhamente Lobo caminhava ao meu lado, e não embaixo de mim como é nosso costume, e estávamos um pouco mais atrás de nosso recente grupo de amigos. Éramos ao todo 8, meu inconsciente me mostrou que faltava o Halfling que salvamos, mas estranhamente não dei importância ao fato, e segui com o grupo. Não se via, junto ao grupo ou longe dele, a existência de nenhuma luz, mas todos enxergávamos como se estivéssemos andando numa noite de luar.

Lembro-me bem. Chantal foi a primeira. Ouvimos uma música, que me é familiar, mas na hora não recordei e, de forma estranha, Chantal saiu em disparada pelo túnel como se tivesse avistado a saída. Não fosse o hábito, talvez me espantasse pela falta de reação do grupo. Seguindo em frente percebemos que Chantal não estava em parte alguma mas, afinal, eu já estava habituado aos efeitos da Conexão, e sabia que nada de mal lhe tinha acontecido. Um a um meus companheiros se foram, incluindo Lobo, meu fiel amigo, que foi o próximo, acompanhado de Irina. Ouvimos outra música, que me lembrou o Pai da Vida e, no momento seguinte, os dois correram como Chantal havia feito. Outras músicas tocaram e Badin, Liara, Hael e Baco também se foram, um a um.

Continuei a caminhar, pelo tempo de onde não há tempo, e então eu ouvi a música e vi a luz. Desta luz, surgiu um raio, ou uma flecha, não sei dizer ao certo, vindo em minha direção. Sei que ocorreu num piscar de olhos, mas vi o trajeto e concluí que acabaria em meu peito, aonde agora eu tinha uma Lua, da qual me recordava vagamente. Milésimos, ou horas (desculpe-me, não há como precisar o tempo, quando se está no Mundo dos Dias), se passaram, e a flecha tocou meu peito, acertou em cheio uma avelã, presa em um colar de tranças roxas, exatamente acima da Lua. A avelã se abriu e deixou que dela caísse sua semente. Ao tocar o chão, o tremor de terra foi tão grande que me lembro de ter ficado estarrecido. Antes de cair me joguei ao chão, e estranhei quando caí em galhos de uma alta aveleira, e não no frio chão anão. De onde estava, através dos galhos, via apenas a lua que momentos antes estivera em meu peito. Nunca fui bom em escaladas, e no momento em que pensei nisso, avistei uma corda dourada, mais bonita que toda corda élfica que já vi. Havia um problema, nesta corda não haviam nós, também não haviam ranhuras, emendas nem nada que chamasse atenção aos meus olhos apressados, e me auxiliassem na descida.

Respirei fundo, segurei a corda e desci, com uma força surpreendente que eu sabia não possuir. Na descida reparei que a aveleira tinha escamas de mithrill, que cresciam sobre si como trepadeiras e, ao tocar o chão, senti meus pés molhados. Olhei então e notei que a aveleira nascia de um espelho, um espelho d’água. Sentia-me em uma sala fechada, mas o horizonte me parecia infinito, olhei então para a lua, que pingou seu brilho n’água e me mostrou, que a poucos metros, ou centímetros, existia um vale submerso que continha em seu centro uma fonte de luz.

Caminhei até lá, e me vi em cima da luz, como se um chão invisível nos separasse. Abaixei e da água bebi, e em mim a Lua pingou. Quando reparei, sem qualquer tremor, som ou outra demonstração, me vi dentro do vale, diante de um pedestal, que continha um livro e uma pena equilibrada em pé sobre ele. Tentei pegar a pena que virou uma mão e folheou o livro. Existiam tantas coisas nele escritas que precisaria de algumas vidas élficas para contar. Ao final das páginas, olho em volta e vejo o espelho. Não me vejo mais como era, sou um Elfo, e carrego em uma das mãos um cantil e, na outra, a pena que havia visto. Encho o cantil e guardo-o com carinho, junto com a pena, e caminho em direção à aveleira. Sento-me aos seus pés, e recolho do chão uma de suas escamas prateadas. Lembro-me da avelã que me salvou no corredor, olho para baixo e vejo-a pendendo sob o colar roxo e sobre a Lua em meu peito, olho para cima e percebo que voltei ao corredor, e estou ao lado de meus companheiros, como se anos, ou apenas minutos, de caminhada tivessem se passado.

Ao acordar achei engraçado como o grupo me olhava, e só então percebi a luminosidade prateada que emanava da Lua de Corelon em meu peito, iluminando com seu brilho prateado a lareira a minha frente eclipsando o fogo que nela existia. Olhei para trás e percebi como vinhas desenroscavam-se, do rosto de Obad-Hai às minhas costas, por meus braços e faziam crescer plantas por todo o quarto, na rocha pura e fria da tão conhecida e mal-quista masmorra.

quarta-feira, 6 de outubro de 2010

Senhores da Guerra

Éramos 20 homens naquela colina. Apenas 20, e eu rezava para ser suficiente. Estávamos deitados naquela trincheira há pelo menos 3 horas com a chuva molhando nossos rostos. A lona suja de terra que nos cobria era cheia de buracos. Ao longe ouvíamos o tropel de cavalos. Deveria ser o grupo de Hador, o Destemido. Ouvimos a coruja piar 4 vezes e tivemos certeza que era ele. Dentro de alguns instantes meu senhor iria puxar a lona, soltar seu temível grito de guerra e liderar seus melhores guerreiros contra 150 Meio-Orcs espantados.

Æltherac, meu senhor, tinha chegado àquelas terra há apenas dois dias. Chegou pelo mar, depois de 4 anos de exílio. Apenas eu e mais 18 homens o seguiram. Remar aquele navio com metade da tripulação não foi fácil, mas Fharlanghn nos enviou bons ventos. A primeira coisa que ele fez foi invadir o castelo do Rei Lieeam e interromper o Calix*. Ele apontou para o rei e o chamou de idiota. Explicou que os Meio-Orcs não iriam gastar seu tempo contra as muralhas da Capital. Eles iriam cavagar pelo Interior e destruir as vilas, estuprar as mulheres e vender as crianças. Chamou os Arcontes* de velhos preguiçosos e os acusou de preguiçosos acomodados. “Dêem-me 200 guerreiros e nós vamos acabar com o exército deles” – berrou, mas não conseguiu convence-los.

De fato, com 220 homens, meu senhor conseguiria derrotar os quase 1000 meio-orcs que atacavam Bhurdlan. Sem eles, o trabalho seria mais difícil, mas eu tinha total confiança em Æltherac. Nos meus 5 anos de serviço ele nunca havia me desapontado e eu era um homem rico graças à sua generosidade. Nesses 5 anos eu aprendi a amar e entender meu senhor. Eu sabia que a recusa de Lieeam o deixou desapontado, mas o brilho em seus olhos me fez entender que ele tinha outro plano.

Eu estava certo. Meu senhor sabia que Hador estava separado do exército principal. Tinha ido negociar com os anões ao sul e não podia levar uma comitiva maior do que 150 cavaleiros. O novo plano consistia em acabar com esse grupo. Sem a liderança do seu Destemido líder, a horda meio-orc não saberia o que fazer e seria uma presa fácil para o exército do Rei.

Por esse motivo estávamos a 3 horas deitados sob uma lona suja de terra, molhados e com frio. Maleim, o Pequeno, era nosso batedor e foi ele quem emitiu o pio da coruja. O resto de nós apertou o punho das espadas e sacudiu o frio para fora. Éramos a guarda pessoal de Æltherac, um grupo famoso nas distantes Ilhas Plácidas. Naquele lugar, do outro lado do mar nos chamavam de Espectros e nos temiam. Hador em breve saberia porque nos chamavam assim.

A lona caiu e 19 homens surgiram do nada, assustando os cavalos de Hador. Todos nós estávamos vestindo cota de malha, elmo, botas reforçadas com metal. Todos nós portávamos escudos com o símbolo de nosso senhor. Alguns de nós usavam espadas, outros tinham machados e Furtàn usava uma cimitarra. Nossos equipamentos, desde as lâminas até as tiras que prendiam nossas calças eram brancos. O único que vestia negro era Maleim, devido sua posição como batedor.

Como um só nós avançamos. O movimento enraizado em nossa mente, depois de dias e noites de treino e milhões de combates. Éramos apenas 20, mas éramos Senhores da Guerra. Guerreiros endurecidos por incontáveis batalhas. Amigos unidos por laços mais poderoso que família, credo ou raça. Éramos os enviados da Morte e estávamos ali para fazer nosso trabalho profano.
Para crédito de Hador, ele era corajoso e inteligente. Enquanto avançamos, ele mandou que metade do seu grupo apeasse e a outra metade continuou galopando. Cavalos se assustam fácil e não conseguem enfrentar uma barreira de madeira e metal. Seu plano era receber nossa carga com metade de seus homens e, enquanto estivéssemos ocupados, seus cavaleiros nos pegariam por trás. Estávamos preparados, nossa carga se modificou: alguns de nós corremos mais rápido e aqueles nos flancos diminuíram a velocidade. Atingimos a formação de Hador em formato de cunha e nos embrenhamos entre seus homes.

Pode parecer fácil, mas uma tática como essa não pode ser feita pela maioria dos guerreiros. É preciso velocidade, força e ousadia, muito mais de cada uma do que a maioria dos homens tem. Meu senhor e Urthanc (um anão) guardam as espadas enquanto correm e usam o escudo com duas mãos. O escudo deles é especialmente reforçado com uma camada de chumbo e somente eles conseguem usa-los. E o usam bem. Com o impacto do golpe eles rompem a parede de escudos do inimigo. Quase imediatamente dois homens de cada lado deles usam seus machados para atacar os homens desequilibrados e impedir que eles ataquem os Perfuradores. Depois o resto de nós usa o ímpeto da carga e alarga a brecha. Éramos apenas 19 homens e tínhamos acabado de entrar no meio de 70 meio-orcs furiosos (5 deles não resistiram às machadadas). Então a batalha realmente começou.

Eu gostaria de poder descrever melhor essa parte, mas não há como descrever uma luta. É apenas um borrão de espadas, sangue, escudos, cuspe e xingamentos. Lembro de aparar uma lança em meu escudo e de usar a minha espada longa para furar a garganta do meio-orc que atacava o elfo ao meu lado. Lembro de berrar o nome Kord enquanto cortava os tendões de outro inimigo e de meu senhor senhor largando o escudo e distribuindo a morte com suas duas espadas largas. Não lembro direito do resto. Éramos 19 homens e lutávamos contra 70 meio-orcs. Estávamos protegidos de sua cavalaria, pois estávamos cercados por inimigos. Nosso movimento surpreendeu o inimigo e muitos deles foram mortos nos primeiros segundos, mas éramos poucos e eles logo se organizaram.

Eles tinham experiência. Deviam estar realizando saques desde que aprenderam a segurar uma arma, pois essa é a vida meio-orc. Foram pegos de surpresa pela ousadia de nosso golpe, mas Hador os liderava bem. Houve um momento de calma enquanto eles se preparavam para o contra-ataque. Nosso grupo formou um círculo. Os escudos foram levantados e os corpos dos meio-orcs mortos formou uma precária barricada. Hador berrou para que seus cavaleiros se preparassem e nós esperamos.

Ele era um comandante esperto. Nunca tinha visto a nossa manobra, ou acho que não, mas soube seu objetivo assim que nos fechamos em círculo. Com uma palavra de comando seus guerreiros nos atacaram, chocaram-se em onda contra nossa parede de escudos e depois abriram espaço. Sua cavalaria estava vindo a toda velocidade e nós estávamos desorganizados pelo seu pequeno ataque. Éramos uma presa fácil.

Mas nosso senhor não era apenas esperto, ele era brilhante. Quando os cavalos estavam a poucos passos, o chão pegou fogo. Maleim ainda estava nas árvores e, com uma flecha bem mirada, incendiou a pólvora que havíamos espalhado em torno daquela área. Em instantes a investida compacta de cavalos era uma massa de carne se retorcendo no chão. A explosão da pólvora não causou muitos danos (naquela época nós não sabíamos como comprimi-la para fazer uma arma mortal), mas os cavalos se assustaram e esbarraram uns nos outros, derrubando os cavaleiros. Alguns dos guerreiros a pé estavam com as vestes em chamas e rolavam no chão para apagá-las. Novamente atacamos como um só. Investimos contra os inimigos caídos e nossas lâminas cantavam enquanto decepávamos membros e desviávamos de coices. Atravessamos o mar de cavalos e matamos mais da metade dos homens caídos. Os que sobraram estavam muito debilitados ou presos sob os próprios cavalos.

Mas a ameaça ainda era grande. Continuávamos em desvantagem de 3 para 1 e dessa vez Hador não cometeu erros. Juntou seus homens, chamou os cavaleiros que conseguiram escapar do fogo e mandou que desmontassem. Vieram juntos, calmos e controlados. Não houve corrida desabalada, não houve arroubos de fúria. Vieram como uma massa de homens e vinham para nos matar.

Nosso senhor olhou para nós e viu 19 homens dispostos a morrer por ele. Até mesmo Maleim estava ali, com suas facas assassinas. Em seus olhos vimos orgulho e amor. Eu beijei meu amuleto de Kord, fiz uma prece para Heironeous e segurei minha espada com força. Estava cansado, não conseguia levantar meu ombro e mancava da perna esquerda. Nem lembrava de ser sofrido aqueles ferimentos. Sabia que poderia morrer a qualquer momento, mas meu único pensamento era deixar Æltherac orgulhoso.

Até agora a batalha tinha sido caos. A adrenalina inundava meu sangue e tudo passou freneticamente. Nessa hora, porém, tudo era calmaria. O mundo ficara silencioso e eu soube que iriam para os planos exteriores com certeza que cumpri minha tarefa. Vi Hador baixar sua espada e 60 meio-orcs correrem em nossa direção. Afastei meus pés para me firmar e então os sons retornaram.

Atrás dos inimigos uma trompa soava. O Rei e sua guarda pessoal vinham a galope em uma carga bem organizada e o inimigo soube que não poderia escapar. Hador, vendo suas esperanças destruídas correu em direção a meu senhor. Estava disposto a matar o homem que atacara seu grupo.

A batalha foi curta. Æltherac gritou para nós abrirmos espaço e recebeu o ímpeto de Hador com suas espadas. Seus movimentos eram graciosos, seus golpes eram firmes. Hador, cego de fúria, não tinha chance contra ele. A força de seus golpes era desviada enquanto meu senhor fazia sua dança da espada e aparava seus golpes com facilidade. Hador abriu apenas uma pequena brecha, mas foi suficiente para Æltherac. Com um golpe ele tirou o equilíbrio do chefe meio-orc e com o seguinte arrancou sua cabeça.

E então o tropel de cavalos nos rodeou e o resto do grupo estava morto. Não perdemos nenhum homem, apesar dos diversos ferimentos. Garamonte nunca mais poderia tocar sua flauta, pois perdera a mão esquerda, e Sávio teve que amputar uma das pernas duas semanas depois. Mas os Espectros haviam salvado Bhurdlan e nada poderia ofuscar aquela glória.





* Calix: É o conselho de batalha do rei. Pelo menos 70% dos Arcontes devem estar presentes.
Arconte: Também conhecido como Lorde ou Arcontancean é um senhor de terras que prestou juramento ao rei. Na época existiam 117 Arcontes em Bhurdlan.

terça-feira, 5 de outubro de 2010

Esse final de semana!

Sábado tem Bio.
E como eu sempre demoro horrores pra me arrumar, que tal a gente fazer o game no domingo?

@Wintertouched

Sigam XD

Diário do Patife #1

Nota 525 (dia X):

Nunca provei uma cerveja tão gostosa quanto a de hoje. É engraçado como enfrentar peuenos demoninhos faz a gente enxergar a vida de outra maneira. Eles nem me tocaram, mas eu subitamente me peguei pensando que não estou pronto para morrer.

De qualquer jeito, tenho que tentar descobrir mais sobre eles, nunca tinha visto nada igual. Acho que consigo uns livros bons se falar com a Chantal, ela sempre parece saber onde achar as coisas.

Vou lá descobrir se o porco tem um gosto melhor também.


Nota 526 (dia X+1):

Como eu imaginei. Os livros sobre o Abismo são extremamente raros e as poucas informações que eu encontrei são evasivas e contradizentes. Muito pouco se salva. Pena que não consegui entrar na Biblioteca do Castelo...

Se a Chantal não tivesse ido com os outros para a Floresta eu pedeiria alguma ajuda pra ela, mas vou ter que tentar me virar com o que tenho aqui.

O Bob está me chamando, com o Inquieto fora o trabalho cai todo em cima de mim.

Nota 527 (dia X+3):

Certo, em Demônios e Diabos encontrei um beco sem saída. Essa maldita cidade não tem nada sobre eles. Pelo menos achei um livro legal sobre armaduras


Nota 528 (dia X+3, horas depois):

Tive que terminar a última abruptamente, explodiu uma briga no bar e o Bob não conseguiu segurar os caras sem quebrar mesas... De qualquer jeito, estava falando sobre o livro de armaduras. Aparentemente um antigo mestre anão, que estudava demônios, também era um entusiasta da arte de confecção de armaduras. Achei fascinante, vou mantê-lo comigo e dar uma lida mais tarde.


Nota 529 (dia X+15):

Dias corridos. O maldito Inquieto saiu e me deixou na mão. O Bob me faz trabalhar dobrado e eu mal tenho tempo para ler ou estudar. Não ajuda o fato que ontem a noite eu ateei fogo ao telhado sem querer.

Pelo menos o badin e a Liahra aparecem aqui de vez em quando e a gente dá umas boas risadas.

Nota 530 (dia X+29):

Chegou uma mensagem do Kas. Estou arrumando minhas coisas de viagem e vamos encontrá-los em Porto Norte. O Bob está uma fera, mas não posso deixar meus amigos na mão. Pode ser a segurança de Bantur em jogo.

Nota 531 (dia X+30):
Levamos sorte, quando chegamos no porto tinha um navio partindo e eles ficaram muito contentes com a perspectiva de um guerreiro treinado e uma agente divina no barco. Não gostaram da minha prensença, mas como eu estava junto com os dois, me deixaram entrar.

Mudaram de opinião no meio da viagem, quando Badin nos demonstrou porque Anões não são conhecidos por suas embarcações. Pelo menos consegui distrair a tripulação com histórias da corte...

Amanhã chegaremos em Porto Norte, espero que não tenhamos problemas.


Nota 532 (dia X+32):

Estamos no mato a 2 dias. Minhas costas doem e minhas pernas reclamam. Não sei como Irina e Kas parecem tão confortáveis. Quero minha casa de volta. A cerveja acabou, a comida é ruim e o tempo todo parece que existe algo espreitando nas sombras.

Releitura dos últimos dias: Chegamos na magnífica cidade de Porto Norte. Só de vê-la, me senti tentado a estudar Arquitetura. Prédios belíssimos. Muito diferente de Bantur.

Encontramos nossos amigos em uma taverna. Se não estivessem com tanta pressa eu teria ido atrás da bela moça que sorriu pra mim. Como sou um cara legal, desisti de uma noite maravilhosa para ir atrás de rastros de demônios. ONDE EU ESTAVA COM A CABEÇA?!

Nota 533 (dia X+34):

Como o destino é irônico. Encontrei a tal moça bonita. Descobrimos que ela é uma bruxa maléfica que comanda os demônios. Seu irmão, provavelmente com ciumes do meu charme, nos mandou para as profundezas da montanha (certo, não sei se foi ele, tenho que pensar melhor nisso).

Depois as coisas ficaram interessantes, caímos em uma câmara circular e tivemos que enfretam milhões de Druergar e Drows. O Inquieto morreu. MORREU! Não conseguimos fazer nada para ajudá-lo e Kas lhe deu um fim decente. Eu nem tive chance de falar nada. E dizer que passei o último mês amaldiçoando-o.

Depois da batalha, andando sem rumo, encontramos uma cidade Drow. A vista era impressionante, devo admitir, mas não era nosso destino planejado. Na tentativa de encontrar um melhor caminho, Badin teve a perna quebrada.

Paramos para acampar e acho que ninguém conseguiu descansar direito. No meio da noite, Irina encontrou um cara coberto de bosta. Hael, um paladino, fugitivo dos Drows. Seguimos seus companheiros e nos deparamos com uma patrulha dos Elfos Negros.

Após um combate rápido e não mais fácil que o anterior, conseguimos extrair informações de um dos inimigos e descobrimos para onde deveríamos ir: através da cidade para túneis do outro lado.

Será difícil, mesmo cobertos com fuligem, e não sei se conseguiremos. Se minha narrativa acabar por aqui é porque algo terrivelmente errado aconteceu.

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P.s.: Escrito em Dracônico.

segunda-feira, 4 de outubro de 2010

Uma Jornada no Escuro*

Os acontecimentos da última sessão.

Badin era o único que conseguia enxergar através da escuridão, e a visão não era nada animadora: eles estavam cercados por um grupo de drows e druergar, guerreiros e feiticeiros, em franca desvantagem numérica. O resto dos aventureiros só conseguiu ver o desafio que os esperava depois que Baco iluminou a caverna. O combate foi árduo, e logo no início, Chantal e Liahra foram deixadas desacordadas, Badin foi vítima de um feitiço que o reduziu à metade do tamanho e Baco foi adormecido, o que apagou a luz que ele havia conjurado e obrigou seus amigos a lutarem às cegas. Com esforço e às custas do próprio sangue e suor, o grupo reverteu a desvantagem e venceu a disputa – não sem sofrer uma dura perda: a morte de Adron.

Kas cuidou do corpo e os outros, cansados, decidiram que precisavam sair da caverna e buscar um caminho de volta para a superfície. De acordo com Badin, eles estavam em lugares muito profundos, a cerca de 1 km da superfície. Guiados por Irina, o grupo prosseguiu através dos túneis, sentindo a escuridão se tornar penumbra, até terminarem num lugar impressionante.

Os aventureiros saíram por uma passagem escavada em formato semicircular que terminava num pequeno platô, projetando-se das paredes em forma de cúpula de uma imensa caverna, iluminada por uma fosforecência alaranjada nas paredes que provinha de fungos. No fundo da caverna, eles avistavam uma cidade subterrânea, e das paredes da cúpula, projetavam-se várias outras passagens similares a que eles estavam, ligadas entre si algumas por escadas verticais ou por degraus de pedra. Do platô onde eles estavam, nenhuma escada saía, no entanto, logo abaixo, a cerca de 15 metros, projetava-se outro platô.


Com a ajuda de Badin para posicionar o píton e de Chantal para preparar os nós, Irina amarrou as cordas para descer o grupo até o platô inferior. O primeiro a descer foi Badin, e ninguém do grupo pensou em tirar a pesada armadura para que o anão descesse. Apesar das melhores tentativas, os nós das cordas não foram bem amarrados, e Badin caiu de uma altura equivalente a 9 metros, caindo inconsciente. O grupo precisou subir as cordas, refazer as amarras e testá-las. Preocupados com o estado do anão e sem sequer saber se ele estava vivo, desceram primeiro a elfa Liahra, sem seu equipamento, que certificou-se de que Badin ainda estava vivo e prestou os primeiros socorros. Depois disso, os aventureiros desceram seu equipamento e terminaram o percurso pelas cordas, dessa vez, sem outros acidentes.

Apesar de ter sobrevivido à grande queda, não foi completamente ileso. Badin fraturou uma perna e Kas colocou-a no lugar com uma tala. Depois disso, o anão precisou ser apoiado por Liahra e Baco para conseguir andar.

O platô onde o grupo se encontrava possuía uma escada de degraus, no entanto, ansiosos por encontrar um lugar para repousar, o grupo seguiu para dentro do túnel, e Irina guiou-os até uma reentrância parcialmente escondida e relativamente segura, na qual eles se revezariam em turnos de guarda.

Foi no turno da ranger que algo inusitado aconteceu. Irina estava sentada próxima da luz, os olhos perdidos em algum ponto cego na parede enquanto escutava atentamente e pensou ter ouvido gritos por comida e socorro, em idioma comum. Intrigada, acordou Kas, que não conseguiu escutar o que havia atraído a atenção da meio-elfa. Irina pediu que Kas vigiasse o acampamento enquanto ela ia verificar.

Munida de uma tocha e com a cimitarra em mãos, Irina começou a percorrer o túnel, silenciosamente, na direção em que havia ouvido os barulhos. Não fazia cinco minutos que havia deixado o acampamento e foi surpreendida pelo barulho de vários passos – passos pesados, rudes e ruidosos, diferente da suavidade letal com a qual os drow costumavam movimentar-se. Um cheiro forte e nauseante lhe atingiu e a ranger cambaleou, pelo fedor e de surpresa, quando viu um grupo de estranhos com a pele coberta de algo escuro (excremento – a origem do odor fétido), alguns usando o que pareciam ser perucas improvisadas com cabelo branco, parecendo toscamente com drows, pararem, surpresos com a estranha que destoava absurdamente daquele lugar. Irina, no entanto, sabia que aqueles não eram drows, no entanto, ainda não tinha certeza se aquele grupo era de amigos ou inimigos.

Quem é você?” um deles perguntou.

Quem são vocês?” foi a resposta da ranger.

A maior parte do grupo partiu, esbaforida, dizendo que não havia tempo para conversar e restou apenas aquele que havia indagado Irina. Pela altura e pelo porte, provavelmente era um humano. Rapidamente, ele explicou que eles eram fugitivos e que vinham da cidade. Isso alarmou Irina.

Vocês vieram da cidade? Alguma possibilidade de terem sido seguidos?

Temendo pela segurança dos seus amigos, Irina correu até o acampamento, e com a ajuda de Kas, acordou os que dormiam. Kas também foi o responsável por conjurar água e vapor para limpar o estranho e tornar sua presença mais tolerável. Ele apresentou-se como Hael.

Como na opinião de Hael os seus antigos companheiros pareciam saber para onde era a saída, os aventureiros decidiram segui-los, o que não era difícil, tanto pelo barulho quanto pelo cheiro deles, e reiniciaram o percurso para o platô na caverna fosforecente, dessa vez, seguindo pela escada. Quando perderam o som dos fugitivos, o grupo resolveu preparar-se para qualquer perigo e continuar seguindo em frente.

O corredor alargou-se e os aventureiros surpreenderam-se ao ver os fugitivos todos mortos num chão. De um dos corpos, um drow retirava uma espada com a lâmina rubra de sangue e atrás dele, mais quatro drows encaravam os recém-chegados. Esses drows, diferiam muito dos drow que haviam sido enfrentados anteriormente: usavam armaduras bem trabalhadas ostentando o símbolo de Lolth no peito, capas roxas e elmos esculpidos que deixavam entrever somente os olhos vermelhos e cruéis. Ainda na parte estreita do corredor, o grupo esperou, com Liahra, Irina e Hael (usando a falcione capturada por Badin em uma batalha pregressa e uma armadura mágica conjurada por Baco) bloqueando a passagem e protegendo os amigos.

Essa batalha também foi árdua. Ainda que estivessem em vantagem numérica, Badin estava ferido e necessitava de proteção (e portanto usou o arco de Liahra para ferir os inimigos à distância) e os inimigos tinham armas e armaduras bem feitas. Não fossem as flechas providencialmente atiradas por Chantal e Badin, pela bênção de Liahra, pelas magias de Baco e pela cura fornecida por Kas, Liahra, Irina e Hael cairiam, deixando o resto dos seus amigos suscetíveis.

Quando os cinco inimigos foram derrubados, o grupo observou os inimigos. Chantal, Hael e Irina revistaram os corpos em busca de pertences e Badin observou que o s inimigos usavam uma espécie de divisas em suas capas, e que ainda que não soubesse o que elas significavam, aqueles cinco eram militares graduados. Hael tomou para si a espada larga de um dos inimigos e uma armadura, e a repulsa que ele sentiu por usar a peça que ostentava o símbolo da maligna Lolth e a sua necessidade por esconder o símbolo, além da sua perícia em combate, mostrou que ele não era nada menos que um paladino.

Liahra verificou os corpos até encontrar um drow que estava gravemente ferido, porém ainda vivo, e o curou o suficiente para deixá-lo consciente. O inimigo, no entanto, não parecia disposto a colaborar.

Vocês não sairão daqui. Vocês vão morrer aqui!” foi o que ele disse, mesmo depois de ameaças, quando perguntado sobre como poderiam voltar à superfície.

Foi Liahra quem achou a solução para o problema. Depois que Hael perguntou qual era o caminho para eles deixarem a caverna, a clériga usou sua magia de comando para quebrar a vontade do drow e obrigá-lo a contar.

O inimigo observou a elfa chocado e depois de relutar, começou a falar “Vocês devem seguir em direção a cidade, e atravessá-la até a saída norte. Sigam pelo caminho e tomem o terceiro túnel à esquerda. Virem 45 graus e entrem na primeira caverna. Vocês devem passar pela terceira porta, a porta lisa, e chegarão à escada em espiral que leva à superfície. A escada é guardada e só se pode atravessá-la dizendo a senha.

Qual é a senha?” alguém perguntou, e o inimigo do subterrâneo manteve-se calado. Liahra usou novamente seu artifício.

Qual é a senha?” Hael perguntou.

Responda.” Liahra ordenou.

A que o drow respondeu: “Lolth, a única. Lolth, a Rainha.

Depois disso, o grupo decidiu que seria arriscado demais deixar para trás aquele inimigo moribundo, já que os outros drow poderiam encontrá-lo, curá-lo e isso colocaria sua fuga em risco. Kas responsabilizou-se por matar o inimigo com dignidade (uma vez que a morte planejada por outros, como Chantal, Badin ou Irina teria sido mais violenta).

Morto o último drow, os aventureiros começaram a revistar os corpos e pensar no que poderiam fazer para atravessar a cidade – que parecia ser o problema mais crítico do percurso orientado pelo drow. Irina pensava se podia haver algum caminho através dos túneis e escadas que levavam aos platôs, evitando a cidade, o que parecia impossível, Hael avisava dos perigos que eles corriam atravessando a cidade e que precisariam ser rápidos para fazer isso e todos preocupavam-se com o fato de Badin ser um atraso para o grupo com a perna quebrada. No meio da discussão, foi Baco quem achou a solução.

O mago rasgou um pedaço de uma das capas roxas dos inimigos e ateou fogo, o que atraiu a atenção de seus companheiros, que pararam para observar. O trapo incendiou até virar cinzas. Baco esperou um pouco, pegou as cinzas em suas mãos e esfregou o rosto, deixando-o negro como breu.

Agora eles tinham um plano.



* Aproveitando a narrativa para homenagear o Tolkien, um dos maiores escritores de todos os tempos e a grande inspiração de rpgistas ao redor do mundo. Pra quem percebeu, sim, esse é o mesmo título da narrativa da jornada da Comitiva do Anel pela escuridão de Moria. =)