quinta-feira, 30 de setembro de 2010

Como passou o último mês

Depois da incursão à floresta, um dos capitães da guarda da cidade pediu a eles que, quando estivessem recuperados, rastreassem as pegadas das criaturas e descobrissem de onde eles vieram. Eles acharam mais prudente não irem todos, pois Badin, Liahra e Baco eram desastrados e provavelmente iriam chamar muita atenção no meio do mato. Como tinham passo mais leves e mais delicados, foram Irina, Adron e Chantal, seguidas de perto por El Kas e seu lobo.

Depois de algumas horas caminhando, eles encontraram o lugar onde lutaram contra os demônios. Não foi difícil, pois o mato estava todo pisado e amarfanhado, além dos lugares onde o sangue deles havia escorrido e tornado a vegetação negra e apodrecida. O mato estalava sob seus pés até então, mas eles prosseguiram com mais cuidado.

Agora, Irina ia à frente, seguida por El Kas, que lhe dava suas impressões sobre a floresta e detalhes sobre espécies que a ela eram desconhecidas. Um vento úmido e fresco começou a soprar, trazendo um arrepio desagradável às suas espinhas.

Irina não tinha dificuldade para encontrar o caminho tomado pelos demônios terrestres, pois eles não tomaram nenhuma precaução em esconder de onde vieram, derrubando arbustos, pisoteando e amassando o mato e as folhas no chão. A noite chegou e eles acamparam em meio à floresta, em redes improvisadas e com pouca proteção contra o sereno. Acordaram com seus cobertores úmidos e pesados, mas prosseguiram sem acender fogo, fazendo a primeira refeição do dia enquanto caminhavam.

Durante vinte e oito dias avançaram vagarosamente, seguindo com cuidado os rastros que a chuva teimava em atenuar e, às vezes, apagar quase que completamente, exigindo algumas horas para encontrar algo que os colocasse na rota certa. Conforme eles rumavam para o Norte, eles podiam sentir o ar mais pesado e abafado e cada noite era mais úmida.

Na manhã do vigésimo nono dia, atraído pelo barulho, El Kas encontrou um ninho de bem-te-vis com filhotes no alto de uma árvore. Esperou calmamente que a mãe bem-te-vi chegasse com o alimento para os passarinhos e, cuidadosamente, se aproximou deles. Com muito cuidado, convenceu-a que ele não iria machucá-la e a instruiu para carregar uma mensagem para os outros. Adron escreveu a mensagem em uma tira de pergaminho que ela carregou no bico até a cidade e a largou na praça principal. A mensagem instruía quem quer que a lesse que procurasse Baco na taverna e dissesse que Adron e os outros o esperavam em Porto Norte e que eles fossem de barco.

Baco recebeu a mensagem e, tão cedo avisou os outros dois, partiram no primeiro barco disponível rio abaixo. A viagem foi rápida, durando apenas dois dias e tranqüila, sem nenhum incidente muito problemático, se considerarmos normal o fato de que Badin enjoou e reclamou a viagem inteira, chegando a vomitar por sobre a borda do barco três ou quatro vezes.

Chegaram a Porto Norte e ficaram embasbacados com a arquitetura tão diferente de Bantur. Encontraram a praça central e foram para a taverna mais barata da cidade, certos de que encontrariam Adron, Irina, El Kas e Chantal.

Ainda na esquina, avistaram El Kas e seu lobo do lado de fora da taverna, sentados à sombra da varanda, em frente a um aviso de "Proibido Animais". De dentro da taverna saiu um casal muito belo, apesar de um pouco sinistro, de braços dados. Eles eram ambos muito brancos, quase pálidos, o que sugeria que eles eram nobres. Ele tinha cabelos longos e lisos, rubros como os lábios da jovem que o acompanhava, olhos negros como a noite. Seus cabelos cascateavam como cachos de fogo e havia algo em seus olhos que despertavam uma sensação de borboletas dentro do estômago de quem quer que fixasse neles seu olhar por tempo demais. Vestiam roupas simples e pardas, porém muito elegantes, com detalhes em vermelho vivo. Uma única jóia adornava o pescoço da jovem, uma corrente delicada com um rubi extravagante entalhado em forma de gota.

O olhar da jovem cruzou com o de Baco e ela ergueu levemente os cantos da boca, enquanto ele mantinha a sua aberta em uma expressão genuinamente embasbacada. Sem olhar para trás, ela e o jovem seguiram seu caminho e rapidamente sumiram de vista em meio à multidão.

Adron, Irina e Chantal logo saíram da taverna, antes mesmo que Baco, Liahra e Badin pudessem pisar nos degraus que levavam à varanda. Carregavam com eles grandes sacos de provisões que haviam comprado no mercado da cidade e um pequeno barril com cerveja forte para Baco, Adron e Badin. Depois de distribuir as provisões, Irina explica que perdeu a trilha dos demônios nas pedras do calçamento da cidade. Ela diz que suspeita que eles vieram de dentro da cidade. Chantal então explica que ouviu falar no mercado sobre o dia em que o navio branco atracou no porto. Ela mencionou o casal vestindo preto e vermelho, as sombras negras, o grito terrível e também que algumas pessoas disseram ter visto sombras negras andando pelos becos escuros da cidade à noite.

Eles descobriram que o navio partira assim que o casal desembarcou. Baco ficou intrigado, pois a descrição da jovem batia com a jovem que vira saindo da taverna, mas ele deu de ombros e continuou prestando atenção no que as garotas diziam. Irina e Chantal decidiram seguir novamente os rastros que foram encontrados nos dias anteriores pela floresta e ver se uma quantidade significativa desviava-se para algum lugar.

Encontraram, depois de algumas horas de procura, um rastro muito, mas muito tênue, devido ao longo tempo que havia passado, mas ainda assim visível por ter sido deixado nas cascas de árvores muito antigas e antes intocadas e pelo sangue negro que corrompia a vegetação, algo impossível de deixar passar.

Seguiram, então, estes rastros durante horas sem fim. Paravam apenas para distribuir algum alimento e para abastecer os cantis. Chovia forte. Uma árvore fora derrubada para servir de ponte, já fazia alguns dias. Como fora derrubada ainda verde e saudável e algumas raízes ainda continuavam conectadas ao solo, parte dela ainda estava verde e viçosa. Usando a ponte improvisada, seguiram para o outro lado do rio.

Continuaram mais dois dias sem grandes acontecimentos seguindo os rastros cada vez menos evidentes dos demônios até chegarem ao sopé da cordilheira de Arad. Lá, Irina encontrou evidências de que os demônios terrestres haviam escalado a montanha e assim todos prosseguiram, não sem dificuldade.

Algumas horas depois, um cheiro nauseabundo atingiu suas narinas, ao mesmo tempo em que avistavam uma espécie de platô, com uma quantidade incomensurável de ossos cuja origem eles preferiam não saber, alguns ainda com muxibas de carne dependuradas, meio mastigadas, apodrecendo sobre ele.

Algum instinto primordial fez com que Chantal e El Kas sugerissem a todos que se abaixassem e se escondessem nas reentrâncias das rochas. Por pouco não foram avistados pelo bando de demônios que subia casualmente esvoaçando até o platô, três deles segurando com as patas traseiras algo do tamanho de um boi.

Assim que os perturbadores barulhos de ossos se quebrando e de carne sendo rasgada terminaram sobre o platô, os demônios alçaram vôo novamente. As criaturas horrendas foram atentamente acompanhadas por sete pares de olhos até pousarem novamente, não muito longe dali, em outro platô. Os sete escalaram um pouco mais longe, em direção ao tal platô, movidos pela necessidade de saber se aquilo era um ninho ou alguma coisa parecida, para chamar reforços da cidade.

Surpresos ficaram ao verem três pessoas acorrentadas à superfície do platô sendo chicoteadas implacavelmente, não por um demônio, mas por um homem. Ao lado dele, postava-se uma jovem estonteantemente bela.

Baco estremeceu e engasgou-se, conseguindo evitar gritar, sem conseguir encontrar dentro de sua mente uma explicação razoável para a jovem estar ali sem ser definitivamente parte do bando de demônios ou, pior, uma dos líderes. Os outros, tomados de surpresa pela exclamação de Baco, voltaram-se na direção dele. Ele, então, explicou que a vira e ela lhe chamou a atenção quando chegavam à taverna, por sua beleza e olhar misterioso.

O tempo passava e o chicote não parava de estalar sobre a carne dos cativos. Gritos de dor ecoavam pelas montanhas e os sete aventureiros faziam o possível para suportar ouvir aquilo. A chuva continuava, pesada e gelada, fazendo seus ossos doerem com o frio.

A noite caiu e eles não ousaram se mexer de onde estavam. O chicote implacável não parou de lamber o corpo dos cativos. Os aventureiros decidiram, então, tomar turnos para manterem-se acordados, mas era praticamente impossível dormir com o som agonizante da dor dos três cativos. Apenas Adron e Badin conseguiram dormir, o primeiro tendo aprendido a meditar e ignorar quaisquer barulhos ao seu redor desde pequeno e o segundo usou de alguns goles de cerveja para trazer o sono que não vinha.

Pela manhã do dia seguinte, a chuva havia cessado, mas uma neblina densa pairava sobre a montanha e o vento ainda entrava por entre as roupas e, com a pele úmida, era ainda mais difícil se aquecer. Não ousaram mexer em suas mochilas para apanhar alguma comida ou mexer em seus cantis, com medo de derrubar algo e fazer algum barulho.

Seus corpos já estavam doloridos e amortecidos, nenhum dos aventureiros aguentava mais ficar na mesma posição, especialmente Baco, Badin e Liahra. Na hora em que eles resolveram mudar de posição Badin e Liahra se esbarraram, produzindo um "clank" especialmente alto. Imediatamente, os demônios no platô se agitaram e eles puderam ouvir claramente uma ordem de silêncio sendo dada. Estremeceram, então, pois não tinham para onde fugir e não se sentiam em condições de lutar.

Depois de quase um minuto imóveis, prendendo a respiração, a angústia já não era suportável. De repente, eles ouviram um farfalhar prolongado de asas. Em alguns segundos, já puderam ver o demônio que vinha verificar o que estava acontecendo. "Intrusos!" ele gritou, e logo uma multidão de demônios pululava ao redor deles.

Eles ouviram uma voz masculina bem cristalina e bela gritar “Parem!” em comum e em seguida grunhir alguma outra coisa. Todos os demônios obedeceram, alguns pousando, outros esvoaçando ameaçadoramente ao redor dos sete, que haviam levantado.

Não foi sem uma exclamação vacilante de terror que eles reconheceram o dono da voz como o belo jovem que saíra da taverna de braço dado com sua companheira e que ela logo vinha atrás dele, ambos caminhando no ar, flutuando em direção aos aventureiros. Eles pararam, ainda flutuando, e ela perguntou o que eles faziam ali. Seu olhar era penetrante, profundo, misterioso, impossível de resistir. Logo eles se viram revelando sua missão e o que eles pretendiam realizar. Somente Baco, El Kas e Adron resistiam, mas acabaram vencidos pela intensidade do olhar. Calados, porém, permaneceram, conseguindo resistir ao ímpeto de contar seus segredos mais profundos para a estonteante jovem.

Ela tinha uma voz grave, suave, macia e hipnotizante. Sua pele era branca como a lua, seus olhos negros como a noite e seus cabelos ao sol pareciam feitos de fogo, os cachos balouçando ao vento. Sua beleza tinha algo demoníaco, não parecia natural.

Ela então se apresentou aos aventureiros. "Meu nome é Iryanna, este é Raug, meu irmão. Somos da família Iaur, nobres, sim, mas não aqui. Se vocês não se juntarem a nós, a jornada de vocês acabará hoje mesmo. O que vocês me dizem?"

Num ímpeto de coragem, Badin postou-se à frente dos companheiros e disse "Não, não nos juntaremos à sua causa. Viemos até aqui para proteger nossa cidade, nossos amigos e nossas famílias. Se sairmos vivos daqui, caçaremos vocês até os confins do mundo." e todos apertaram o punho de suas armas.

Iryanna disse, então: "Assim seja."

E com um gesto firme na direção dos aventureiros, Raug então começou a grunhir de forma ininteligível. Horror se abateu sobre o rosto de Irina, à medida que ela escutava cada palavra sendo dita. Quando ele terminou a frase, ele começou a rir loucamente. Todos sentiam algo ruim, uma sensação estranha, um arrepio que parecia rastejar sob a pele.

Nisto, o chão começou a tremer com violência e todos foram derrubados. Nuvens encobriram o sol e tudo ficou muito escuro de repente. Ficou tão escuro que nem os olhos habituados à escuridão de Badin lhe permitiram ver alguma coisa ao seu redor.
Depois do que pareceu uma eternidade, eles sentiram o chão parar de tremer. Continuava absurdamente escuro, mas, para o alívio de todos, Badin disse "Gente, estou meio tonto, mas consigo enxergar um pouquinho e acho que estamos em uma caverna subter..." e sua voz falhou quando viu os diversos pares de olhos cravados neles.

5 comentários:

Miro, O Inquieto disse...

Oh shito. O.o

@iGs__ disse...

PUTA QUE PARIU!!!!! *-*
*-*
*-*
*-*
*-*
era o que faltava nas nossas sessões
/me faz reverência.
ótimo conto!
agora, quanto ao detalhe:
se fodemos, cagada, neh? xDDD

PluckTheDuck disse...

FUUUUUUUUUUUUUCK! >.<





(genial a idéia, Pati =DDD)

Miro, O Inquieto disse...

Tinh que ser o Anão né? Putaquepariu. OIUAHoiuHAEOiuhAEIUOhAEIOU

Miro, O Inquieto disse...

Na real, tinha que ser a Bah. OIUHAEiuohAEIOUhAIEU