sexta-feira, 17 de setembro de 2010

Irina Galanodel, a ranger

Foi um acontecimento no mínimo inusitado para o grupo de elfos silvestres que caçava nas florestas ao sul de Bantur ver aquela figura tão incomum vagando, aparentemente sem rumo. As roupas estavam gastas, os cabelos, despenteados e ela não trazia mantimentos ou equipamentos para viajar por aquelas regiões inóspitas. A jovem humana, que mal deveria ter ultrapassado a maioridade, não lembrava-se do próprio nome ou dos motivos que a fizeram vagar por aquela floresta.

Movido pela compaixão, o capitão daquele grupo concluiu que seria crueldade deixar a humana abandonada, à mercê de sua sorte. Assim, ainda que sob protestos de alguns dos seus companheiros, ele levou a jovem para sua vila, para que o seu destino fosse decidido pelo senhor daquele povo.

Leinion Galanodel era um elfo valoroso, e ninguém precisaria de provas de sua bondade e caráter, tampouco o líder daquela tribo, seu tio. O senhor daqueles elfos, movido também pela pena, determinou que a humana deveria permanecer com os elfos na floresta – mas somente pelo tempo necessário a sua recuperação.

Durante o tempo em que a humana passou naquele lugar, recebeu o nome de Adaniel – uma mera palavra élfica para “humana”. A maioria dos elfos a evitava, sendo ela uma estranha em seu lar, e o único que a tratava com gentileza e educação era Leinion. Ainda que a memória da moça não voltasse, ela parecia bem disposta e feliz, e a sua vivacidade, somada à efemeridade que os humanos representavam, terminou por encantar o elfo.

Quando o envolvimento entre Leinion e Adaniel tornou-se próximo demais para ser envolvido, o senhor élfico chamou Leinion. Após uma conversa longa, de cujo conteúdo muito pouco os outros elfos souberam, Leinion partiu com Adaniel para longe das florestas. Uma tristeza abateu-se sobre o chefe, mas naquela situação, ele não poderia permitir que o ser que crescia no ventre da humana vivesse entre os seus: mesmo que fosse filho de um parente querido.

Leinion e Adaniel decidiram partir para Norford, o único lugar em Annuil que os aceitaria sem grandes problemas. Na sua viagem de partida, ainda nas florestas em Arad, o casal foi atacado por um Bar’Lgura e Leinion ficou para trás, garantindo a fuga de sua amada e da criança que ela esperava. Leinion fracassou nessa tentativa, não antes que o som de combate atraísse os outros elfos, que terminaram por destruir a criatura e salvar Adaniel de um destino tão terrível quanto o de Leinion.

Adaniel foi levada novamente para a vila, e o senhor élfico, ao saber do acontecido, ficou com o coração partido, sentindo-se responsável pela morte de Leinion. Decidiu que o mínimo que poderia fazer era aceitar o que antes havia sido repudiado, e cuidar da humana e do bebê. Adaniel viveu para dar a luz à criança, batizada de Irina, mas já não havia nela muita vontade de viver: o único amigo que tinha havia perecido para salvá-la e ela sequer sabia quem era. Assim, com a filha ainda pequena, Adaniel caiu doente e faleceu, deixando o encargo da criação de Irina para os elfos.

Crescer entre os seus meios-parentes não foi fácil. Ainda que poucos tivessem a ousadia de falar, ninguém tolerava muito bem a presença do sangue impuro da menina (hostilidades que a jovem não tardava em responder e revidar...). Irina era um ser inferior, que não possuía a mesma graça, leveza e magia dos elfos, alta demais, desajeitada demais para os padrões dos elfos. A meio-elfa era lenta em seus aprendizados e crescia desmasiadamente rápido. Foi com dificuldade que aprendeu o idioma dos elfos e ainda mantinha um sotaque que soava quase um insulto para seus tutores. Não demorou muito para que os anciões desistissem de ensinar a ela um conhecimento mais acadêmico e concordassem que seria melhor guiá-la para um ofício mais simples. Assim, durante a adolescência, Irina começou a acompanhar os rangers em suas incursões e a aprender deles o ofício.

Apesar de insolente e teimosa, Irina não era de todo uma má pessoa. Angustiava-lhe o fato de ser diferente - e não tão boa - quanto os outros elfos, e ela ansiava por uma oportunidade de mostrar seu valor. Saber que estava aprendendo a fazer as mesmas coisas que seu pai havia feito a enchiam de orgulho, e uma esperança de que ela pudesse mostrar seu valor enquanto ranger cresceu, fazendo com que Irina se dedicasse aos ensinamentos.

No entanto, nada do que ela fizesse jamais faria com que os outros elfos a aceitassem. Para eles, jamais importaria o quão boa ela fosse - sempre seria uma "meio-humana". Desistindo da intolerância nas florestas dos elfos, Irina partiu para algum outro lugar, onde ela pudesse demonstrar seu valor e ficar livre de seus anseios - e que lugar melhor do que entre humanos? Assim, Irina partiu para a cosmopolita Bantur.

Livre e independente para fazer o que quisesse, a ranger tornou-se diferente em Bantur. Ainda insolente, Irina tornou-se altiva e orgulhosa, com um quê de prepotência e poucos pendores para ignorar desafios. Como aprendeu a ser uma ranger com os elfos silvestres, ela acredita ser superior em perícia aos rangers humanos. Irina não demorou para aprender a aproveitar a vida em Bantur, e quando não está caçando ou guiando pessoas pela florestas, a ranger pode ser vista contando vantagem e bebendo uma boa cerveja no Copo Sujo.

(Observação: A Irina está em Bantur ainda não faz um ano...)